Uma mosca te incomoda?

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A mosca voava de um lado a outro, incomodando-me. Eu tentava manter a concentração para poder terminar um trabalho que tinha hora e prazo para ser entregue, mas a mosca insistia em me distrair. Sentava-se na tela do computador, lugar que não podia bater para matá-la. Ela voava e se sentava num livro ao lado em que batia, mas o golpe chegava atrasado. Ela voava para outro lado onde os meus olhos a seguiam e eu começava a esbravejar mentalmente contra aquela mosca que me irritava. Isso já aconteceu contigo? Falo de uma mosca, mas poderia ser um ruído, um motorista que não respeita os sinais de trânsito ou um atleta que compete na mesma categoria que o tira do sério. Em cada uma das situações citadas, o que está no seu controle? Acredito que se possa atuar em duas frentes: (1) fazer o que pode ser feito e (2) escolher a atitude emocional sobre aquilo que não pode ser mudado.

Uma mosca ou um ruído (há uma obra aqui na minha janela) podem ilustrar como damos poder a situações que não deveriam ter poder sobre aquilo que sentimos ou deixamos de sentir. Ao analisar essa sensação incômoda no dia a dia ou numa realidade competitiva, pode-se saber quem e o que controlam as escolhas de cada um. O trânsito é um exercício de paciência, porque parece que quanto mais atrasado alguém está mais os “outros” motoristas fazem manobras que o atrasam ainda mais. Parece que os semáforos se fecham quando não deveriam fechar, levando muitos a se enfurecerem fazendo do trânsito um espaço de loucura compartilhada. Nos esportes individuais de alto rendimento são inúmeros os atletas que desviam o foco de sua atenção para quem está ao seu lado, esquecendo-se de atuar onde podem atuar. No trânsito e nos esportes as situações podem ser estímulos, mas não são a causa de quem se sente atingido por elas. O que o motorista pode fazer com relação aos outros motoristas ou aos semáforos? Provavelmente, nada! Parar frente a cada um que parece estar desrespeitando as leis e armar uma confusão não vai ajudar. Ligar para a companhia de trânsito para que os semáforos se abram para ele passar não vai acontecer. Assim, ele pode (1) sair mais cedo no próximo dia e (2) mudar sua atitude interior ao aceitar o que não pode ser mudado. Para os atletas de alto rendimento que se amedrontam com o seu competidor, o que está a seu alcance fazer? Eles têm as suas escolhas: (1) observar e aprender com o outro para melhorar e (2) treinar ainda mais para aperfeiçoar o próprio desempenho, atuando sobre si, o único lugar sobre o qual se tem autonomia. Enfim, em cada uma das situações o importante é atuar sobre o que está ao seu alcance e aceitar o que não se pode mudar. Trata-se de migrar do reino da loucura ao querer mudar o que não se pode e entrar no reino da sabedoria para fazer o que se pode com aquilo que se tem.

E uma mosca te irrita? A ilustração da mosca serve apenas como ponto de partida para que cada um reflita: qual é a sua mosca? Eu tenho as minhas. Hoje, logo que comecei a escrever, o ruído de uma construção aqui ao lado me deu a exata noção de como cada um pode fazer a escolha da atitude interior sobre os eventos que estão fora do controle. Não quero dar poder a situações externas e aos outros para que eles definam como vou viver o meu dia. Irritei-me ao princípio, depois fechei a janela e escolhi sentir-me bem. Enfim, a obra vai melhorar a calçada da rua que eu uso.

Moacir Rauber

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