Você quer autonomia? Qual é a sua escolha?

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Meu sobrinho estava com dezesseis anos e gostava muito da atividade do pai, agricultor. Levantar pela manhã e pegar um trator para preparar a terra ou uma colheitadeira era fascinante. Dava àquele jovem a sensação de autonomia e de liberdade. Entretanto, algo o incomodava, porque sempre ao final da tarde tinha que ir à escola. “Não vejo a hora de terminar”, falava sobre concluir o Ensino Médio para não precisar estudar mais. Deixei-o falar mais um pouco e perguntei:

– Por que você não quer estudar mais?

– Para ser agricultor não preciso de faculdade.

Ele tinha razão. Para ser agricultor, e as demais atividades relacionadas, não se precisa curso superior, como veterinária, agronomia ou outro qualquer. Concordei com ele que qualquer pessoa que tenha disposição física para o trabalho pesado da vida no campo pode exercer a atividade, porque tudo pode ser aprendido por repetição. Entretanto, a diferença é que o agrônomo ou o veterinário podem ser um agricultor, enquantoum agricultor sem formação não pode ser um veterinário ou um agrônomo. Nesse ponto o não estudo tira a autonomia, reduz a liberdade e, consequentemente, diminui as possiblidades de inovação. Isso tudo limita as escolhas. Como assim?

Comentei com o sobrinho que o pai dele era um dos melhores agricultores que eu conhecia e que, certamente, tinha muito mais conhecimento prático do que muitos agrônomos ou veterinários iniciantes. Entretanto, o fato de não ter feito uma faculdade de agronomia, por exemplo, tirava a sua autonomia. Ainda que ele tenha a capacidade para elaborar um projeto detalhado para o plantio de uma cultura agrícola, ele precisaria da assinatura de um engenheiro agrônomo para conseguir um financiamento de custeio. A escolha das sementes, da adubação e de tudo que está relacionado ao plantio pode ser feito pelo agricultor, mas o projeto requer uma responsabilidade técnica que não pode ser dele. A não formação,se não tira, diminui a autonomia, a independência e a liberdade ao restringir a autogovernação com a perda da autossuficiência. Igualmente, um agricultor sem uma formação superior tem diminuída a sua capacidade de inovação. Ainda que o agricultor conheça o seu negócio, ao estudar ele amplia o entendimentodo seu lugar nesse mundo interdependente. O sítio pode continuar sendo um sítio, mas também pode ser um hotel fazenda, uma agroindústria ou um centro de formação por meio de atividades rurais que desestressam os cidadãos urbanos. Conectar-se com outros mundos permite que aquele que estuda se abra para a inovação ao se apropriar de hábitos e tradições, renovando-os para que sejam apreciados por outras pessoas. A inovação é um movimento interno que o conhecimento potencializa. Por fim, um agricultor, ou qualquer outro profissional, sem a devida formação fica refém da falta de reconhecimento da própria comunidade.Por isso, manter-se na mente do aprendiz é fundamental para se manter atualizado no mundo, garantindo a sua autonomia, aumentando as possibilidades de inovação pela expansão das escolhas.

Desse modo, um agrônomo sempre poderá ser um agricultor, mas um agricultor não pode ser um agrônomo. E isso se aplica as demais áreas de conhecimento. Um médico pode ser um voluntário social, mas um voluntário social sem formação não pode ser um médico. Um arquiteto pode ser um jardineiro, mas um jardineiro sem a formação acadêmica não pode ser um arquiteto. Um engenheiro pode ser um mestre de obras, mas um mestre de obras sem formação não pode ser um engenheiro.

Fica a pergunta: qual é a sua escolha?

Moacir Rauber

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