Mauro Picini – Sociedade e Saúde – 03/01/2024

Verão com ondas de calor: estação demanda cuidados com hidratação, alimentação e choques térmicos

Médico do Policlínica Hospital de Cascavel alerta para hábitos e fatores que ajudam a preservar a saúde

Após uma primavera atípica, com registro de temperaturas altíssimas e ondas de calor severas, o verão chega prometendo condições semelhantes. De acordo com o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), o fenômeno El Niño continuará ativo e com forte intensidade na bacia do Oceano Pacífico Equatorial, o que deve trazer condições propícias a chuvas volumosas e persistentes, ventanias e as já conhecidas ondas de calor.


Diante da previsão, devemos voltar nossa atenção para hábitos e rotina que auxiliem na manutenção da saúde. O médico oncologista do Policlínica Hospital de Cascavel, Rodrigo Ferreira, alerta para os cuidados e medidas que devemos adotar para aproveitar a estação mais quente do ano com a saúde em dia. “Inicialmente, precisamos observar duas medidas básicas para o nosso bem-estar: hidratação e cuidados com a pele. A ingestão de líquido, principalmente água, é fundamental para a hidratação do corpo. O volume recomendado para um adulto é de ao menos 2 até 3 litros de água por dia. É importante reforçar que a hidratação deve ser feita ao longo de todo o dia, principalmente no período de maior calor, que compreende das 10h às 16h. A recomendação é sempre andar com uma garrafinha de água para manter o hábito e evitar ficar desidratado, lembrando que a maior parte do nosso corpo é água, então a hidratação é fundamental para manter a disposição e saúde”, alerta.
A outra recomendação é a proteção da pele. “O filtro solar é fundamental e é necessário reaplicá-lo algumas vezes durante o dia, renovando a proteção. Outra questão que é preciso ficar atento é o fator de proteção recomendado para cada tipo de pele. Para pessoas com a pele mais escura é recomendado o uso de filtro ao menos com fator de proteção 30, já para pessoas de pele mais clara é preciso utilizar protetores que tenham ao menos fator 50 e reaplicar até três vezes para assegurar a proteção necessária”, ressalta.

De olho na alimentação – A dedicação à alimentação variada e que atenda as necessidades do nosso corpo também é fundamental para enfrentar a estação. “Para se manter saudável ao longo do ano todo é preciso manter uma dieta balanceada composta por proteínas, carboidratos e gorduras boas, mas no verão ela é ainda mais relevante e deve ser aliada ao consumo de frutas ao longo do dia, pois além de serem ricas em vitaminas e nutrientes elas também tem uma grande quantidade de líquido, como laranja e melancia, por exemplo. Tem ainda uma observação em relação às proteínas. É importante priorizar proteínas mais magras como peixes, frango, evitar o excesso de carnes vermelhas, principalmente as muito gordurosas, o que pode acabar influenciando de forma ruim na alimentação. Colocar bastante vegetais, fibras e legumes no cardápio também é fundamental”, garante.

Cuidado com o choque térmico – Não há nada mais reconfortante do que em dias muito quentes chegar em um ambiente geladinho com ar-condicionado. Entretanto, essa mudança brusca de temperatura pode impactar de forma negativa a nossa saúde e agravar doenças já existentes. “Eu recomendo que se evite ficar em locais fechados com o ar-condicionado ligado em temperaturas muito geladas. Às vezes você fica no escritório com o ar em 16 graus, um frio extremo e quando você sai pro ambiente quente você tem essa mudança abrupta de temperatura. Isso pode influenciar principalmente para as pessoas que têm alergias, rinite, sinusite. Então é indicado tentar usar o ar-condicionado com parcimônia em temperaturas não tão baixas, não tão geladas e se tem alguma doença, às vezes é bom optar pelo uso do ventilador ou mesmo o umidificador de ar, que ajudam a manter o ambiente mais úmido e vão evitar essas mudanças abruptas e não prejudicar a saúde”, orienta.

Grupos de risco – As orientações do médico são indicadas para toda a população que quer ter um verão saudável. Mas existem grupos que devem redobrar a atenção com algumas das recomendações. É o caso dos idosos e gestantes. “Os idosos e as gestantes não sentem muita sede e acabam tomando pouca água, então é importante prestar atenção e tomar medidas que reforcem o hábito de ingerir líquido ao longo do dia. Nós vemos muitos casos de pacientes idosos que têm desidratações severas e vão parar no hospital. Para evitar esse quadro, é recomendado estar sempre com uma garrafinha e tentar sempre ir ingerindo ao longo do dia de forma lenta e regular, não esquecer dessa ingestão porque isso vai ajudar a evitar esse estresse excessivo do organismo e a desidratação”, completa.

Febre maculosa: saiba como a doença é transmitida e como se prevenir

Doença que provoca sintomas como febre, cefaleia e manchas na pele é causada por bactéria do gênero Rickettsia e transmitida por carrapatos contaminados

Com sinais clínicos inespecíficos e gravidade variável, a febre maculosa ganhou espaço nas manchetes de muitos jornais do país depois do surto identificado em uma fazenda de Campinas, no interior de São Paulo. Apesar de ser mais comum em áreas rurais e de matas fechadas, a doença vem causando uma preocupação generalizada, especialmente por sua alta letalidade. Transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma que estejam contaminados pela bactéria Rickettsia rickettsii, a febre maculosa exige atenção e cuidados especiais, mas não é motivo para pânico.


Vanessa Yuri, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) câmpus Toledo, explica que animais domésticos e silvestres estão sujeitos a infestações por carrapatos e, por isso, o alerta também é válido para quem vive em áreas urbanas. Segundo a especialista, animais como cães, cavalos, bovinos e capivaras podem carregar o carrapato contaminado. Em caso de contato com esses bichos ou após passar um período em ambiente de mata fechada, é importante realizar uma inspeção minuciosa na pele para verificar se não há nenhum carrapato aderido.
Ao detectar a presença do ectoparasita, o ideal é retirá-lo segurando com uma pinça ou papel, com um leve movimento de torção que faz com que o aparelho bucal do carrapato se abra. É importante não o espremer, pois a secreção pode estar contaminada.
“Vale destacar que para o carrapato transmitir a doença, ele precisa estar precisa ficar de quatro a seis horas, pelo menos, aderido ao hospedeiro, seja humano ou não. É nesse período que ocorre o que chamamos de ‘repasto sanguíneo’, e, consequentemente, a transmissão da bactéria”, pontua Vanessa.
Por apresentar sintomas comuns a outras doenças, como sarampo, dengue, febre amarela, leptospirose e salmonelose, é difícil diagnosticar a febre maculosa precocemente. As manchas avermelhadas e irregulares na pele, sinal mais específico da enfermidade, podem aparecer entre o segundo e o sexto dia. Essas características fazem com que o relato do paciente seja fundamental para o médico analisar o quadro, levando em consideração a situação epidemiológica do local e todos os fatores de risco aos quais a pessoa foi exposta nos últimos 14 dias.
De acordo com a médica veterinária da PUCPR Toledo, as formas de prevenção sempre partem da análise dos fatores de risco.
“Não ir a locais com matas e pastos entre os meses de junho e novembro é a principal medida preventiva. Nesse período, o número de carrapatos mais jovens é elevado e, por serem menores, podem passar despercebidos. Vale ressaltar que, uma vez que esses ectoparasitas são contaminados, eles vivem com a bactéria pelo resto da vida e transmitem aos seus descendentes. Um único carrapato pode produzir 16 mil filhotes, o que acaba dificultando muito o controle”, afirma.
Se houver necessidade de frequentar um local com potencial de contaminação, a dica é utilizar vestimentas que cubram todo o corpo, aplicar repelente e, ao sair, fazer uma vistoria completa na pele. As orientações preventivas também valem para quem tem pets em casa. Inspecionar o corpo do animal diariamente é outra medida bastante importante, além do uso de carrapaticidas ao identificar a presença do ectoparasita.
“Na medicina veterinária, a febre maculosa ainda é raramente diagnosticada, especialmente por ser facilmente confundida com outras doenças. Geralmente, recomendamos o uso de antibióticos, que também é o tratamento indicado para humanos, e o animal se recupera mesmo sem ter o diagnóstico preciso”, finaliza Vanessa.

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