Mauro Picini Sociedade+Saúde 26/08/2020

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Vacina para a Covid-19, o que precisamos saber

O assunto mais abordado atualmente em todas as mídias é a vacina para a Covid-19. Temos visto que diversos países possuem empresas com estudos avançados, o Brasil, devido ao descontrole da disseminação do vírus, está participando de diversos, pois é interessante estudar a vacina onde ainda não se tem controle dos casos. Toda essa situação acaba gerando algumas perguntas. Por que os pesquisadores estão em busca de uma vacina e não de um medicamento? Por que uma vacina demora para ser produzida?
Para conseguirmos combater e proteger a população contra a infecção pelo novo coronavírus, a forma mais eficaz de se imunizar é através da vacina. Apenas a vacinação em massa será capaz de estimular em cada indivíduo a produção de anticorpos contra o vírus, e desta forma, evitar que a pessoa vacinada venha a contrair a doença quando em contato com o microorganismo. Um medicamento com ação antiviral precisa atuar de forma muito específica no ciclo do vírus, ou seja, a procura dos medicamentos para a Covid-19 busca amenizar os sintomas causados pela doença.
Mas, se a forma mais eficaz de se combater este novo vírus é através da vacinação, porque demora tanto para produzir essa vacina, já que tantas empresas parecem estar avançadas nos estudos?
Para respondermos esta pergunta precisamos entender as fases de desenvolvimento de uma vacina. Algumas das empresas que a estão desenvolvendo têm seus estudos já em fase 3, isso significa que a vacina é capaz de produzir os anticorpos e está sendo testada em diversos centros de pesquisas ao redor do mundo para garantir segurança e eficácia. Após esta fase, com os dados obtidos, é possível solicitar o registro e aprovação para uso comercial às autoridades sanitárias competentes, no caso do Brasil é a ANVISA.
Nos últimos dias, a Rússia surgiu como uma nova promessa em busca da tão esperada vacina, porém essa notícia deixou a comunidade científica desconfiada, devido a falta de dados científicos de fase 1, que garantem a segurança, e de fase II, que demonstram a produção suficiente de anticorpos.
Qualquer notícia sobre a produção das vacinas contra a Covid-19 sempre deixa a população mundial esperançosa, mas antes que ela chegue amplamente à população, é necessário garantir que seja um produto seguro e eficaz para ser utilizado. Sabemos que o desenvolvimento é demorado, mas é nossa esperança na busca do convívio em sociedade novamente. 
Autor: Vinícius Bednarczuk de Oliveira, farmacêutico e coordenador dos cursos de Farmácia e Práticas Integ 

 

Desenvolver a indústria farmoquímica nacional é uma questão de soberania e temos essa capacidade

Era 26 de fevereiro de 2020. Depois da tensão em acompanhar a evolução clínica dos 34 brasileiros repatriados que viviam na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do novo coronavírus, o Ministério da Saúde confirmava o primeiro caso de COVID-19 no Brasil.
 No mês de março, o mundo tomou conhecimento de um trabalho de Gautret et. al (Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial, Int J Antimicrob Agents. 2020 Mar 20;105949). As conclusões apontavam para um possível tratamento medicamentoso para a doença: a hidroxicloroquina.  Acompanhando a evolução da pandemia no mundo e no nosso país, naquele momento parecia importante para nós, da Prati-Donaduzzi, desenvolvermos tecnologia em território nacional para a fabricação deste Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), a partir do qual seria possível formular medicamentos e fornecer à população. 
 Consideremos a nossa capacidade e participação no mercado: Produzimos 12 bilhões de doses terapêuticas por ano. Somos a maior produtora de medicamentos genéricos do Brasil. Somos a maior fornecedora de medicamentos genéricos para o governo.  Produzimos 32% do medicamento genérico mais consumido no Brasil para hipertensão. Mais de 4,2 milhões de diabéticos utilizam nossos medicamentos diariamente. Temos 42% do mercado do analgésico mais consumido do Brasil. Dados que indicam que poderíamos contribuir com o país produzindo e fornecendo à população brasileira um medicamento de qualidade e que poderia salvar milhares de vidas.
Foi com este objetivo que no final do mês de março, iniciamos o projeto Sulfato de Hidroxicloroquina na Specialità Fine Chemicals, laboratório de pesquisa e desenvolvimento de processos de fabricação de insumos farmacêuticos ativos sintéticos da Prati-Donaduzzi. Nossa equipe de pesquisadores químicos identificou a rota de síntese mais adequada – estratégia que os químicos utilizam para produzir substâncias complexas a partir de insumos mais simples e abundantes – e relacionou os insumos necessários à fabricação da molécula-alvo. 
 Para monitorar a qualidade do insumo produzido por nós, nossa equipe de pesquisadores em química analítica identificou todos os insumos (padrões de referência, colunas cromatográficas) necessários para a realização de testes de qualidade conforme recomendações de um compêndio mundialmente reconhecido, a farmacopeia americana. 
 Nossa equipe de suprimentos realizou uma grande força-tarefa para identificar os fornecedores e disponibilizar aos nossos pesquisadores todos os insumos por eles apontados, e no menor tempo possível. E em pouco mais de dois meses a equipe da Specialità conseguiu desenvolver um processo reprodutível e robusto que permite sintetizar o Sulfato de Hidroxicloroquina em conformidade aos atributos de qualidade estabelecidos pela farmacopeia americana. Os lotes-piloto de laboratório foram concluídos exatamente em 03 de agosto de 2020.
 Neste momento, não sabemos se faz sentido dar continuidade ao projeto, face aos novos e mais aprofundados estudos clínicos realizados por grupos de pesquisa de vários países sobre a eficácia deste medicamento no tratamento da Covid-19. Mas, provamos com fatos e dados, e não apenas com discursos hipotéticos, que o Brasil tem capacidade de desenvolver novas tecnologias na área de insumos farmacêuticos ativos. E em tempo muito reduzido. 
Por diversas razões que não cabem serem discutidas neste artigo, o Brasil é atualmente muito dependente da importação de princípios-ativos do exterior: cerca de 90% de todos os medicamentos fabricados no país utiliza IFA importado. Além da questão econômica, deve-se ressaltar que esta condição de elevada dependência traz um risco muito elevado à população brasileira: a da falta de medicamentos. 
 Desenvolver a indústria farmoquímica nacional é uma questão de soberania e de segurança nacional, e a Prati-Donaduzzi está pronta para contribuir para a mudança deste cenário.
 Autor: Nelson Ferreira Claro Junior | Diretor da Specialità Fine Chemicals

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