Amai-vos com eu vos amei

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Estamos ainda no discurso da planície segundo São Lucas. É a continuação do sermão das Bem-aventuranças que ouvimos domingo passado. Cada frase nos coloca diante de exigências radicais: amar os inimigos, abençoar a quem nos amaldiçoa, dar a quem nos rejeita, não julgar. É um jeito de pensar e agir que vai contra o que aprendemos no dia a dia. Seguir Cristo e fazer o que faz é exigente e causa certo desconforto: “Se é assim, quem afinal poderá se salvar?” (Lc 18,26).

Por isso o Evangelho, boa nova que Jesus veio anunciar à humanidade, é um caminho seguro. É o próprio Deus que vem ao nosso encontro e se revela fazendo com que conheçamos o seu modo de agir e nos convidando a segui-lo: “Sede misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso”. “Eu vos dou um novo mandamento que vos amei uns aos outros”.

Se queremos romper com o círculo de violência, devemos ouvir as palavras de Jesus. Temos consciência da dificuldade em nos relacionar. Pequenas desavenças e incompreensões podem resultar em separações, brigas e divisões.  A violência só pode ser vencida com o amor. O critério é apresentado por Jesus: “Tratai os outros como quereis que eles vos tratem”. Como tudo seria diferente se aprendêssemos a nos colocar no lugar dos outros!

O perdão cristão nasce de uma experiência religiosa. O cristão perdoa porque se sente perdoado por Deus. Perdoar não é fácil, é um ato de fé. Só se consegue ouvir o apelo de Jesus: “amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem” porque experimentamos primeiro o amor e a misericórdia de Deus por nós. Para viver este princípio precisamos da ajuda do Espírito Santo. Jesus conhecia as fraquezas dos seus discípulos, ele também conhece as nossas, por isso envia o dom do Espírito para nos ajudar a viver a paz: “Soprou sobre eles e disse ‘Recebei o Espírito Santo’”.

Jesus ensinou uma nova forma de conceber a vida. Esta nova forma de entender não era simples palavra e vã pregação alienada do concreto da vida. Jesus pregou e viveu na própria vida, nos seus comportamentos e atitudes, mostrando que é possível agir de forma diferente do que é esperado e estabelecido. Ao “olho por olho e dente por dente”, Jesus contrapôs “oferece a outra face”.

A experiência da misericórdia nos faz novas criaturas, porque nos ajuda a liberar o que há de melhor em nós e nos outros. A misericórdia é não só o atributo primeiro de Deus, mas também a mais humana das virtudes. É aquela que melhor revela a natureza do Deus de infinita bondade. É a que revela igualmente o lado mais luminoso da natureza humana. Por isso é a que mais humaniza as relações entre as pessoas.

Tudo isto será possível somente em Cristo Jesus. Só ele pode nos transformar, com seu Espírito, em criaturas novas. A Eucaristia é a realidade desta promessa: Vem, Senhor, ensina-nos a nos amar uns aos outros e a não julgar como tu não nos julgastes. Amém!

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo

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