Cooperativas mirins constroem hoje o mundo melhor de amanhã

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Em um mundo cada vez mais marcado pela competitividade e pelo individualismo, iniciativas que promovem o trabalho coletivo, o diálogo e a corresponsabilidade desde cedo ganham força e propósito. Neste cenário, as cooperativas mirins têm se destacado como uma poderosa ferramenta de educação cidadã, financeira e empreendedora para crianças e adolescentes.

Criadas com o objetivo de introduzir essas pessoas no universo do cooperativismo, essas organizações incentivam valores como solidariedade, responsabilidade, democracia e trabalho em equipe desde cedo. Mais do que brincadeiras organizadas, elas são verdadeiras escolas de vida, onde os pequenos aprendem, na prática, a importância de construir juntos.

A primeira cooperativa mirim de Toledo, a Cooemide, completou dez anos em setembro  Crédito: Franciele Mota
A primeira cooperativa mirim de Toledo, a Cooemide, completou dez anos em setembro Crédito: Franciele Mota

A Cooperativa Mirim, programa do Instituto Sicoob, é uma associação de alunos que, sob a orientação de um professor orientador, se unem voluntariamente na busca de satisfazer necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio da vivência e prática do cooperativismo. O Programa tem finalidade educacional e se ampara no Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e na Lei nº 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo.

Na região Oeste do Paraná, a iniciativa desenvolvida pelo Sicoob Meridional, com o apoio do Instituto Sicoob, tem impactado a vida de 632 crianças e adolescentes de 23 cooperativas mirins e fomentado a cooperação entre os alunos de escolas públicas e privadas, além de oferecer uma experiência que vai além do aprendizado tradicional.

APRENDIZAGEM – No distrito de Dez de Maio, há 20 km do centro de Toledo, foi fundada a primeira cooperativa mirim do município no dia 28 de setembro de 2015. A Cooperativa Escolar Mirim Miguel Dewes (Cooemide) fica na Escola Municipal Miguel Dewes e conta com 35 associados, sendo alunos do 4º ano ao 9º do Ensino Fundamental com idades entre nove a 14 anos.

A professora orientadora Aryadnne Conterno Lang está há três anos à frente da cooperativa mirim. Os encontros acontecem duas vezes por semana, nas tardes de segunda-feira e quinta-feira quando os alunos se dedicam nas atividades de formação, produção do objeto de aprendizagem – velas aromáticas, sabonetes decorativos e escalda pé – e prestação de contas das atividades da cooperativa. “É uma atividade que demanda bastante do comprometimento dos alunos, mas eles são muito responsáveis”, conta a professora.

A cooperativa mirim segue a mesma estrutura de uma cooperativa convencional, com Conselho de Administração, Conselho Fiscal, Estatuto e organização nas atividades. “A cooperativa mirim é um laboratório de aprendizagem. Ela foca na formação pedagógica, no aprendizado dos alunos, no desenvolvimento social, emocional e no trabalho em equipe”, complementa Aryadnne.

A professora orientadora explica que as atividades na cooperativa mirim proporcionam grande aprendizagem para os alunos contribuindo para o desenvolvimento escolar, onde eles colocam em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

“A cooperativa vem ao encontro com o conteúdo administrado nas aulas. Nas oficinas eles conseguem colocar em prática os componentes curriculares, como Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Muitas atividades aqui na nossa cooperativa envolvem processos químicos, por isso quando eles trazem esses conteúdos para a prática acabam absorvendo os assuntos de forma bem natural”.

Bruno Finkler é o presidente da Cooemide. Estudante do 6º ano, ele conta que a experiência na cooperativa é muito legal. “Às vezes tem desafios e então temos que nos esforçar mais ainda. Mas com a ajuda de todos, tudo dá certo”. Milena Siveres, estudante do 9º ano está quase se despedindo da cooperativa. Depois de seis anos de experiência na Cooemide, a tesoureira da organização fala qual é o sentimento no seu último ano de atividades. “Vou sentir falta e muita saudade. Vou levar daqui as brincadeiras, a parceria com o amigos e o aprendizado”.

Na Cooperduque os alunos vivenciam experiências enriquecedoras em cada atividade  Crédito: Franciele Mota
Na Cooperduque os alunos vivenciam experiências enriquecedoras em cada atividade Crédito: Franciele Mota

A Cooemide, de Dez de Maio, é uma das sete cooperativas mirins das escolas públicas do interior de Toledo. O município que orgulhosamente carrega o título de Capital Paranaense do Agronegócio, também é líder estadual pelo 12º ano seguido no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), com um desempenho que alcançou exatamente R$ 4.720.354.755,04 na safra 2023/2024, segundo dados preliminares divulgados pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab).

Toledo conta hoje com diversas cooperativas no ramo de crédito, saúde, agronegócio, agroindustrial e artesanato. Participar de uma cooperativa mirim é trilhar o mesmo caminho de formação, instrução e conhecimento. “Esses estudantes já têm a vivência do cooperativismo dentro do seu núcleo familiar. Os pais conhecem e apoiam esse movimento e isso contribui bastante para esse acolhimento na cooperativa mirim”, pontua a professora Aryadnne.

CONSTRUÇÃO – Muito além do aprendizado sobre organização, gestão e responsabilidade, os resultados do trabalho desenvolvido nas cooperativas mirins refletem diretamente no crescimento pessoal e coletivo dos estudantes. Para a professora orientadora Aryadnne, a cooperativa mirim tem se mostrado uma experiência transformadora na formação de crianças e adolescentes. “Eu vejo o resultado do trabalho da cooperativa no dia a dia, a mudança na vida deles com princípios como respeito ao colegas, a inclusão, ajudar quem tem mais dificuldade, entre outros. O cooperativismo provoca essas transformações”.

A diretora da Escola Municipal Miguel Dewes, Cristiane Terezinha Steffens Cipriano, foi a precursora da Cooemide. Ela participou da pesquisa e fundação da cooperativa mirim e foi professora orientadora durante sete anos. Olhando para esses dez anos de atividades da Cooemide, ela tem convicção de que o trabalho com esses pequenos cooperados produz grandes resultados e contribui para a construção de um mundo melhor.

“Eu sempre falo que se você consegue mover um, você já fez uma grande história. Muitos alunos que participaram dos primeiros anos da cooperativa estão cursando uma faculdade ou estão no mercado de trabalho, e nós ficamos orgulhosos porque a cooperativa fez parte desse processo de formação desse jovem”.

Loni, coordenadora das cooperativas mirins e o presidente do Sicoob Meridional Sonir enfatizam o impacto do programa  Crédito: Franciele Mota
Loni, coordenadora das cooperativas mirins e o presidente do Sicoob Meridional Sonir enfatizam o impacto do programa Crédito: Franciele Mota

A estudante de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, Isabelly Cristine Kotz Kliemann, participou da Cooemide desde a fundação até o ano 2020. Na cooperativa mirim ela desempenhou algumas funções importantes como tesoureira, conselheira fiscal e presidente. Ela conta que a experiência na cooperativa mirim foi muito boa e deixou saudades. “Eram tardes muito incríveis com colegas maravilhosos. Fazíamos muitas amizades e o que eu mais gostava era de produzir os objetos de aprendizagem”.

Atualmente Isabelly é acadêmica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) campus Toledo e se dedica em várias atividades dentro da instituição, fruto de seu aprendizado no período que esteve na cooperativa mirim. “Participar da cooperativa mirim trouxe muita contribuição em todos os aspectos profissionais da minha vida. Hoje eu faço parte do Centro Acadêmico como secretária, faço parte de uma empresa júnior como assessora da Administração Financeira, também faço parte da Diretoria da Atlética, de um projeto de extensão, além de estar envolvida em vários esportes”.

E o programa Cooperativas Mirins encanta crianças, adolescentes e também adultos. A professora voluntária Marlene Hillebrand Klassen é uma apaixonada pelas cooperativas mirins. Ela atuou como professora orientadora em 2016 da Cooperativa Duque de Caxias (Cooperduque), na Escola Municipal Duque de Caxias, no distrito de Concórdia do Oeste, região rural de Toledo. Em 2017 a professora se aposentou, mas a paixão pelo cooperativismo motivou a educadora a voltar à ativa.

“Eu tenho uma admiração muito grande pelo programa que tem um objetivo muito interessante que é fazer a diferença na vida das crianças e adolescentes. Eu me apaixonei pelo programa quando eu conheci e não consegui sair daqui. Estou sempre ajudando, sempre fortalecendo, porque para mim é como se eu pudesse continuar minha missão de professora por meio do programa das cooperativas mirins”, enfatiza a professora aposentada.

IMPACTO – A participação das crianças e adolescentes nas cooperativas mirins tem se mostrado uma experiência enriquecedora. A coordenadora das Cooperativas Mirins da Secretaria Municipal de Educação, Alessandra Paula Neves de Oliveira, acompanha as atividades e os reflexos da convivência na vida dos alunos. Ela conta que o envolvimento dos estudantes vai muito além da prática de atividades: desperta valores de cooperação, responsabilidade, solidariedade e liderança.

“Ao assumirem papéis ativos na organização eles aprendem, de forma prática e vivencial, a importância do trabalho coletivo e da tomada de decisões em grupo. É inspirador perceber como se sentem protagonistas, contribuindo com ideias, soluções e energia para o crescimento da cooperativa. Esse engajamento fortalece não apenas o espírito empreendedor, mas também a cidadania e o compromisso social, formando crianças mais conscientes e preparadas para a vida”, cita.

Enzo Rafael dos Santos, estudante do 9º ano é presidente da Cooperativa Duque de Caxias (Cooperduque), em Concórdia do Oeste, no interior do Município de Toledo. Ele participa há três anos e conta como a cooperativa mirim contribui para a sua vida. “A cooperativa mirim me ensinou a ter responsabilidade, maturidade, cidadania e ajudou na formação do meu caráter”.

Atualmente, são sete cooperativas mirins nas escolas municipais do interior do município e uma na sede que são mantidas pelo Sicoob Meridional. Entre os objetos de aprendizagem estão a produção de bolachas, brownie, difusores, cricri de casca de laranja, pão de mel, chaveiros, velas aromáticas, sabonete, entre outros. Mais do que ensinar uma atividade, as cooperativas mirins ajudam a construir uma sociedade mais preparada.

“Os trabalhos desenvolvidos na cooperativa mirim refletem diretamente na vida estudantil e na formação das crianças. O impacto mais evidente é o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e de liderança, que contribuem tanto para o rendimento escolar quanto para a formação de cidadãos mais conscientes, participativos e preparados para a vida em sociedade”, afirma Alessandra.

A responsável pelo programa Cooperativas Mirins no Sicoob Meridional, Loni Dupont, acompanha todas as 23 cooperativas mirins na região Oeste. Ela enfatiza que o trabalho desenvolvido pelos alunos impacta nas escolas, nas comunidades e nas famílias. “A cooperativa mirim é um diferencial em uma escola. Os alunos trabalham todos os conceitos na prática. Eles têm funções para desempenhar na área de Finanças, Administração, Conselho Administrativo e Fiscal e também Secretaria. É uma sementinha que está sendo plantada e temos certeza que vai contribuir para termos um mundo cada vez melhor, porque essas crianças estão sendo preparadas”.

Para o presidente do Sicoob Meridional, Sonir Dalla Barba, o trabalho das cooperativas mirins provoca um impacto positivo tanto no desenvolvimento individual, ao formar cidadãos mais críticos e participativos, quanto no coletivo, ao estimular práticas sustentáveis e solidárias que fortalecem os vínculos sociais.

Desta forma, as cooperativas mirins se tornam uma verdadeira escola de vida, preparando novas gerações para construir um mundo melhor. “As crianças são diferenciadas, percebemos na união, na cooperação e nas atividades que elas desempenham. Mas o principal impacto que nós esperamos no futuro é fazer os nossos sucessos, tanto como associados como também pessoas para administrar as cooperativas. Temos que formar pessoas que tenham amor ao cooperativismo”, finaliza.

Por Franciele Mota

Da Redação

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