Cooperativismo que ultrapassa fronteiras: imigrantes encontram um mundo melhor no Oeste do Paraná

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A oportunidade de um recomeço pode estar distante. As pernas vão até onde é possível encontrar sustento, encontrar moradia, encontrar acolhimento, encontrar um mundo melhor. Para milhares de imigrantes é no Paraná – especificamente no Oeste do Estado – que eles têm a chance de uma vida melhor ao ingressarem nas cooperativas. É o pujante Sistema do Cooperativismo que tem proporcionado aos imigrantes mais qualidade de vida.
Existe a necessidade de não apenas sobreviver, mas de viver. A busca por um lugar melhor faz com eles percorram quilômetros e quilômetros; faz com que partam sozinhos, deixando a família com a promessa de um reencontro neste mundo melhor; faz com que saibam aproveitar cada chance; faz com que possam realizar os sonhos deixados na terra natal. É no acolhimento das cooperativas que eles têm encontrado empregabilidade e oportunidade para recomeçar a vida.
De Tumeremo – cidade da Venezuela – até o município de Assis Chateaubriand são mais de 6.550 quilômetros. Foi lá no país que faz fronteira com o Brasil que a vida de Francisco José B. Aguilera começou, mas é no Oeste do Paraná que ele encontrou uma nova chance para prosperar.
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Em 2022, ele veio para o Brasil. “Atravessei a fronteira, fui muito bem acolhido e orientado. Já no posto de imigração foi possível conseguir os documentos necessários para ficar legalmente no Brasil. Também já saí de lá com a garantia de um emprego em uma cooperativa – que tem unidade no município de Nova Aurora. Naquele avião embarcaram meus sonhos e minha chance de mudar de vida”.
Durante 18 meses, Aguilera trabalhou em Nova Aurora. Buscou novas oportunidades de trabalho, fez a entrevista e foi contratado na Unidade Industrial de Suínos da Frimesa em Assis Chateaubriand (UFA). “Faz dez meses que estou na Frimesa. Atualmente, ocupo a função de operador de produção no abate. Na UFA também me senti acolhido. A Cooperativa tem benefícios, tem incentivos e me deu oportunidade. Saí da Venezuela devido ao momento político do país. Escolhi o Brasil por considerar como um gigante, um gigante produtor e tenho encontrado aqui tudo o que eu preciso”.
HISTÓRIAS DIFERENTES, O MESMO DESTINO – Nos corredores da UFA, diariamente, circulam aproximadamente 400 colaboradores estrangeiros. As histórias deles podem ser totalmente diferentes, começando pelo país de origem, a língua materna, os costumes, a cultura, a culinária, mas o que todos têm em comum é o sonho de um lugar melhor.
Enquanto Aguilera percorreu mais de 6.550 quilômetros, Alcides Brandell Medina está apenas 207 quilômetros de Ciudad del Este, no Paraguai. A distância da terra natal não é longa, contudo, permanecer no país de origem não possibilitou as mesmas oportunidades que Medina encontrou no Oeste do Paraná.
“Minha vida no Brasil começou em Medianeira em 2013. Primeiro iniciei trabalhando como ajudante de pedreiro, com o tempo aprendi e assumi como pedreiro. Algum tempo depois, consegui trazer minha esposa para o Brasil. O início foi difícil, mas aos poucos fomos conseguindo comprar os móveis e ir organizando nossa vida. Tudo começou a mudar quando minha esposa começou a trabalhar na Frimesa em Medianeira. Seis meses depois, eu decidi deixar de trabalhar como pedreiro e também fui contratado pela Cooperativa. Eu fui indicado pela minha esposa”, lembra.
Desde 2018, Medina é colaborador da Frimesa – na área de limpeza interna. Segundo, ele os benefícios ofertados na época foram decisivos para que ele deixasse a profissão aprendida com o pai para embarcar no Sistema do Cooperativismo.
“Pouco antes da UFA ficar pronta, meu superior disse que precisa de alguém para ocupar a função de encarregado de Higiene Externa. Foi um desafio, pois envolvia a mudança de cidade, deixar em Medianeira a família (minha esposa e nossos dois filhos) enquanto eu me adaptava em Assis. Porém, decidimos em família e eu aceitei. Foi muito gratificante ver meu trabalho ser reconhecido. São sete anos de Frimesa e pretendo me aposentar na Cooperativa”, brinca.
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Para a família de Medina, as portas abertas da Cooperativa permitiram comprar os móveis, construir a casa própria em solo brasileiro, adquirir um carro, dar educação de mais qualidade aos filhos, ter comida na mesa, ter mais dignidade, ter mais chances de realizar os sonhos e viver em um mundo melhor.
UM NOVO LAR, UMA NOVA CHANCE – O Oeste Paranaense é polo de empregabilidade ligado ao cooperativismo. Próximo a Assis Chateaubriand está o município de Toledo com diversas cooperativas de portas abertas para acolher quem deseja crescer, quem deseja construir um mundo melhor.
Para Rommel Manuel Poyer Rondon, foi preciso percorrer mais de 6.800 quilômetros para começar sua mudança de vida. “Em 2021, eu deixei a cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela, para morar em Toledo. Já conhecia a cidade, pois meu irmão, faz anos, que escolheu Toledo para morar. Mas, foi em 2024 que eu conheci o cooperativismo: fui contrato pela Primato Cooperativa Agroindustrial”.
A primeira função de Rondon foi como carregador. “Logo, passei a ser operador de empilhadeira. Depois, ocupei a função de analista de limpeza e, atualmente, eu sou encarregado da limpeza. Além da chance de crescimento na Cooperativa, estar na Primato, é a chance de fazer faculdade, fazer uma pós-graduação, de continuar aproveitando a oportunidade, fortalecer meu conhecimento e crescer junto com a Cooperativa. Busco o mesmo que todos que aceitam mudar de pais: um mundo melhor para viver e realizar os sonhos”, salienta.

Sistema Cooperativista é diferenciado ao significar as pessoas como seu principal capital
A Unidade Industrial de Suínos da Frimesa em Assis Chateaubriand (UFA) iniciou, oficialmente, a operação de abate de suínos em março de 2023. Dentro do complexo da Frimesa, somente a UFA conta com de 3.527 colaboradores, sendo 401 imigrantes. Do quadro total – de imigrantes contratados na UFA – 308 são venezuelanos, 45 são haitianos e 21 são paraguaios, além de outras etnias.
A coordenadora de Gente e Gestão da UFA, Andressa Becker Hillesheim, aponta que os colaboradores imigrantes – que atuam na UFA – têm baixa taxa de rotatividade. “Existe rotatividade, mas temos notado que ela é baixa, ou seja, eles têm encontrado na Cooperativa um lugar para recomeçar a vida e tem aproveitado essa oportunidade”, explica ao acrescentar que os desafios como a comunicação são superados dia após dia.
CONSTRUINDO O MELHOR – Um mundo melhor para os colaboradores – incluindo os imigrantes – pode iniciar com os benefícios que as cooperativas oferecem. Na UFA, segundo Andressa, envolve salário base com projeção de aumento após a experiência, cartão alimentação, cartão do Programa de Presença Premiada, Kit do Dia do Trabalhador, cesta de Natal, Auxílio Moradia (programa com parcerias locais de incentivo para o colaborador que deseja adquirir uma casa em Assis Chateaubriand), auxílio educação para ensino superior, entre outros.
De acordo com Andressa, a Frimesa ainda não possui um programa específico para atender ao colaborador imigrante, contudo, isso está no radar. Nos últimos cinco anos, a Cooperativa teve aumento de 234% no número de colaboradores contratados.
O gerente da UFA, Marcos Mantovani, reforça o comprometimento da Cooperativa em fortalecer os princípios cooperativistas e ter um olhar mais atento a todos que possam atender a demanda de mão de obra. “Está em nosso radar termos um programa voltado aos imigrantes. Buscamos fazer tudo que é possível para que aquele colaborador se sinta em casa, acolhido. Eles não nasceram no Brasil, mas a partir do momento que eles pisaram aqui e estão trabalhando aqui, o Brasil também é a terra deles”.
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INTEGRAÇÃO NO TRABALHO – Segundo o presidente executivo da Frimesa, Elias Zydek, a Cooperativa Central nasceu com o propósito de garantir dignidade as famílias do campo por meio da agroindustrialização. A Frimesa tem expandido essa missão – ‘além das fronteiras’ – e garantido dignidade as famílias dos imigrantes que encontram na Cooperativa uma oportunidade de recomeçar.
“Além de garantir renda e sustentabilidade para as famílias produtoras de suínos e leite, bem como aos colaboradores, a Frimesa acolhe com muito carinho os imigrantes. Hoje, cerca de 7% dos colaboradores são imigrantes de seis nações. Além do acolhimento, a Frimesa proporciona a integração no trabalho, a assistência para o colaborador e famílias, bem como a facilitação na comunicação”, declara.
Na região Oeste, de acordo com Zydek, a agroindustrialização está crescendo continuamente e necessita de mão de obra em todas as áreas das empresas. “Os imigrantes são bem-vindos ao sistema cooperativista que proporciona ótimas condições de vida e acolhe dentro de seus princípios democráticos, éticos e de cuidado das pessoas. O cooperativismo fundamenta-se nas pessoas e no seu bem-estar. Cultiva um ambiente propício para integrar os imigrantes ao modo de vida local”.
QUEM FAZ UM MUNDO MELHOR SÃO AS PESSOAS – Para Zydek, o Sistema Cooperativista é diferenciado ao significar as pessoas como seu principal capital. “A Frimesa tem no seu propósito engrandecer as pessoas. Quando as pessoas se sentirem valorizadas e respeitadas, certamente teremos um mercado melhor e uma sociedade justa. Acreditamos que o desenvolvimento socioeconômico harmônico, deve gerar oportunidades para as pessoas. Cabe às pessoas a preparação e a busca do conhecimento para utilizar as oportunidades”, afirma o presidente executivo da Frimesa.
Cooperativa: uma organização inclusiva e socialmente responsável
Nos últimos cinco anos, a Primato Cooperativa Agroindustrial aumentou em 250% as contratações de imigrantes. No Oeste, os postos de trabalho, a oportunidade de mais qualidade de vida e a chance de viver um mundo melhor atrai diversas nacionalidades.
“A contratação de imigrantes dentro da Primato – no Paraná – representa pouco mais de 4%”, aponta a encarregada de RH, Angela Carina Frada. “Temos percebido uma força de trabalho qualificada e muito disponível, já que muitos imigrantes estão em busca de oportunidades de emprego e de recomeçar suas vidas em um novo país”.
Para Angela, a contratação de imigrantes é uma grande oportunidade para enriquecer o time, porque traz diversidade cultural, novas experiências e pontos de vista diferentes, que fortalecem tanto a inovação quanto o trabalho em equipe. Ela cita que essa prática também promove inclusão social, valoriza a cidadania e reforça o papel das cooperativas como agentes de transformação e responsabilidade social.
“É claro que também existem desafios de adaptação, principalmente em relação ao idioma, aos costumes e até a própria legislação. Mas, no geral, a contratação de imigrantes fortalece os princípios da Cooperativa como uma organização inclusiva e socialmente responsável”, reforça.
PERTENCIMENTO, RESPEITO E INTEGRAÇÃO – A missão da Primato Cooperativa Agroindustrial vai além da produção de alimentos. A Cooperativa tem expandido essa missão e garantido dignidade às famílias de imigrantes que encontram nela uma oportunidade de recomeçar. “Na Primato, acreditamos que produzir alimentos saudáveis é apenas parte da nossa missão”, destaca o presidente da Primato Cooperativa Agroindustrial, Anderson Léo Sabadin. “Expandimos esse compromisso quando abrimos espaço para acolher pessoas que chegam até nós em busca de dignidade e oportunidade. Muitos imigrantes encontram na Cooperativa não apenas um trabalho, mas um ambiente de pertencimento, respeito e integração. Para nós, cada família que consegue recomeçar a vida ao lado da Primato fortalece o propósito do cooperativismo: crescer juntos, com solidariedade e humanidade”.
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Segundo Sabadin, o Oeste do Paraná é uma região que pulsa desenvolvimento e oportunidades. “Ao integrar o público imigrante ao nosso quadro de colaboradores, conseguimos unir duas forças: a necessidade de mão de obra e a vontade dessas pessoas de trabalhar e construir uma nova vida. Isso traduz, na prática, os princípios cooperativistas, porque gera inclusão, diversidade e um espírito coletivo mais forte. Cada colaborador que se junta a Primato contribui não apenas com seu trabalho, mas também com sua cultura, sua experiência e sua visão de mundo. É assim que o cooperativismo se fortalece: valorizando pessoas e promovendo a inovação e a integração”.
O MUNDO MELHOR INICIA NO AGORA – Para o presidente da Primato, a construção de um mundo melhor começa com atitudes diárias, apoiando projetos sociais voltados ao público imigrante, investindo em sustentabilidade no campo, garantindo alimentos de qualidade para as famílias ou proporcionando emprego e renda. Sabadin reforça que a Primato se empenha em fazer a diferença.
“Um mundo melhor se faz com cooperação, respeito ao próximo e responsabilidade com o futuro. É isso que buscamos praticar em cada decisão: gerar impacto positivo para os nossos cooperados, colaboradores e para toda a comunidade, sem esquecer de quem chega até nós em busca de esperança”, acredita.
Destino: oportunidades do Oeste refletem em mais qualidade de vida
Dados do Sistema Ocepar apontam que as cooperativas do Paraná geram aproximadamente 146 mil empregos diretos. Parte dessas vagas está ocupada por mão de obra estrangeira, principalmente, no setor agroindustrial.
“São pessoas que contribuem com a geração de riquezas para o nosso Estado e que têm conseguido alcançar postos de trabalho além das linhas de produção”, analisa o superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar), Nelson Costa. “Acolher imigrantes que vêm ao país em busca de oportunidades é uma ação que condiz com os princípios do cooperativismo, gerando mais renda e qualidade de vida para as comunidades onde as cooperativas estão inseridas”.
OESTE PUJANTE – De acordo com Costa, esses trabalhadores são fundamentais para cobrir a alta demanda de mão de obra, visto que as cooperativas do Paraná planejam investimentos de cerca de R$ 9,2 bilhões em 2025, focados em principalmente em agroindústrias, armazenagem, logística e energia. “Para que toda essa estrutura funcione, é necessário ter pessoas interessadas no trabalho. Avaliamos que a escolha dos imigrantes pelo Paraná venha a ver justamente com a percepção de que o Estado é um lugar com grandes investimentos e oportunidades. É uma imagem que o cooperativismo tem ajudado a construir”.
Na avaliação do professor, doutor e líder do Grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste (GEPEC), Ricardo Rippel, o Oeste do Paraná é interessante para as pessoas que imigram, pois a região está crescendo economicamente e isto reflete nas oportunidades de trabalho.
“Cabe destacar que o Oeste do Paraná foi a última região do Estado a ser ocupada e que também localiza-se numa área do país dotada de uma tríplice fronteira, historicamente aberta a absorção de imigrantes. Assim dadas as transformações econômicas vividas pelo Oeste do Estado, com um importante movimento de expansão industrial e do setor de serviços, a área tornou-se muito atrativa para os imigrantes”, pontua.
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EM BUSCA DE UM MUNDO MELHOR- Outra questão ressaltada por Rippel envolve as redes de apoio encontradas no Oeste e os fatores que levam uma pessoa a fazer um movimento migratório. “Elas na verdade realizam dois: o primeiro é o da emigração, quando saem do seu lugar de origem; o segundo é o de imigração quando chegam ao seu destino. Elas o fazem porque em sua análise, após realizar um estudo de custo/benefício, entendem que apesar das dificuldades que enfrentam, distância, língua, cultura, etc., ainda assim optam por efetuar o movimento. Sair de seu local de origem não é uma decisão fácil, pois representa uma ruptura de relações familiares, sociais, políticas, e religiosas. Ainda assim as pessoas imigram. E como nossas estruturas de vida na região tem melhorado – dada a ampliação de diversos conjuntos de equipamentos urbanos que elevam a qualidade de vida – aquelas pessoas que possuem a intenção de para o Oeste imigrar, cientes destes atrativos o fazem”, conclui.
Textos
Por Janaí Meotti Vieira
Da Redação
ASSIS CHATEAUBRIAND
TOLEDO