Em 2021, Bom Jesus atinge 100% de taxa de conversão na doação de órgãos

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O trabalho executado com comprometimento pela equipe da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) da Associação Beneficente de Saúde do Oeste do Paraná (Hoesp) – entidade mantenedora do Hospital Bom Jesus – permite que o hospital seja referência na captação de órgãos. Em 2021, dos 19 protocolos concluídos, todas as famílias optaram pela doação, isso fez com que o Bom Jesus atingisse 100% de taxa de conversão.

A doação de órgãos é um tema deliciado. Quando os familiares optam pela doação, eles têm um ato honroso que permite levar esperança de vida para algumas pessoas que estão na fila de espera. Por isso, essas famílias merecem o reconhecimento pelo ato. “Essas 19 famílias que disseram sim, ajudaram aproximadamente outras 60 famílias. É um ato honroso concedido em um momento de dor, mas que pode levar vida, acolhimento e esperança para aquele que recebe o órgão”, destaca o diretor de enfermagem e coordenador da Cihdott do Bom Jesus Itamar Weiwanko.

Todo o processo (desde diagnóstico, abordagem da família, captação, logística de transporte e implante), segundo Weiwanko, envolve aproximadamente 150 pessoas. Ele explica que cada etapa ocorre de maneira organizada, pautada na legislação e respeitando o desejo dos familiares.

“A adesão de 100% de taxa de conversão é resultado o trabalho de toda a equipe, da capacitação, do tratar bem o paciente e seus familiares, da conscientização dessas famílias em optarem pela doação, de respeito e de missão em cuidar do próximo”, pontua o coordenador ao enfatizar que o processo de abordagem, para possível captação de órgãos, ocorre durante um momento de tristeza, por isso, os profissionais precisam estar bem preparados. É extremamente doloroso receber a notícia de que um familiar teve morte encefálica. Ao passar por essa situação o sentimento de angustia toma conta dos corações dos entes queridos e podem surgir diversas dúvidas nesse processo.

A IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO – A abordagem da equipe acontece somente após serem concluídos os protocolos pré-estabelecidos pelo Estado. O Paraná tem um dos protocolos mais rígidos em relação ao diagnóstico de morte encefálica. Somente com esse tipo de diagnostico ou de morte é que os familiares podem legalmente autorizar a doação de órgãos. Para que aconteça a captação são abordados os casos de morte cerebral (acidente vascular encefálico, tumor cerebral, trauma crânio encefálico entre outros) e após uma parada cardiorrespiratória.

“Não vivemos uma cultura que trata a morte como um assunto discutido abertamente”, comenta o enfermeiro e membro da Cihdott, Marcelo Biet. “Existe o medo da morte, contudo, é uma conversa importante: falar sobre o desejo de ser doador caso alguma fatalidade venha a acontecer. Quando o assunto já foi tratado, a família sabe qual era o desejo do ente querido”.

No processo de abordagem as dúvidas são esclarecidas, pois é importante que as famílias tenham segurança no ato da decisão. Conforme Biet, quando a família sente que o ente querido foi bem tratado é que as equipes fizeram o possível para evitar o óbito, é estabelecida uma relação de confiança. Ela acrescenta que os principais impedimentos estão relacionados a falta de conhecimento sobre a vontade do ente querido e os procedimentos da captação dos órgãos. O desejo da família é respeitado. A diferença entre doar ou não doar é saber que pessoal especial partiu, mas um ‘pedacinho’ dela pode ajudar a salvar outra vida e levar esperança para outra família.

QUANDO A VIDA CONTINUA – Cada sim dado pelas famílias reflete na vida de outra pessoa. Assim que o protocolo é concluído com parecer favorável para a captação é iniciada uma luta contra o tempo e que envolve diversos profissionais não apenas do Hospital Bom Jesus, pois é acionada a rede para que as captações acontecem e que os pacientes na fila de espera estejam prontos para o transplante.

“Iniciamos os trabalhos de captação de órgãos no Hospital Bom Jesus no ano de 2006”, pontua o médico intensivista e responsável técnico da UTI, Fernando Roman. “Desde então enfrentamos diversos desafios. Para que tudo acontece é preciso contar com muitas pessoas, inicialmente, com a aceitação dos familiares”.

DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA – O Paraná tem um dos protocolos mais rígidos em relação ao diagnóstico de morte encefálica. Apenas com esse tipo de diagnostico ou de morte é que os familiares podem legalmente autorizar a doação de órgãos. Para que todo o processo ocorra de maneira adequada é fundamental a participação de profissionais habilitados. Antes de atestar a morte encefálica de um paciente, alguns testes são realizados. Entre as causas mais frequentes que ocasionam a ausência de todas as funções neurológicas estão os casos de Acidente Cerebral Vascular (AVC), traumatismo, tumores, meningite e AVC isquêmico.

“O corpo é comandando pelas funções do cérebro, ou seja, se acontece um diagnóstico de morte encefálica nada mais pode ser feito pelo paciente. O coração pode continuar batendo por um período com o auxílio de equipamentos, mas as funções do cérebro não voltam. Quando a abordagem da família é realizada a equipe expõe tudo que foi feito pelo paciente, os resultados dos exames que comprovam o diagnóstico de morte encefálica e que, se for o desejo dos familiares é possível fazer com que o ente querido ainda possa ajudar outras vidas com a doação dos órgãos”, esclarece o médico ao enfatizar que o ato da doação é um gesto de solidariedade e também pode trazer mais conforto aos familiares do paciente.

Da Redação

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