Toledo perde a pioneira Emília Beal

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Toledo perde a pioneira Emília Maria Leduc Beal. Ela faleceu nesta tarde de domingo (5). Emília Beal estava com 101 anos e não resistiu à uma cirurgia para recomposição do fêmur. Ela era mãe do escritor e empresário Vitor Beal e de Diana e Dione Beal.

Emília Beal nasceu na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, no dia 26 de agosto de 1922, ou seja, 101 anos, e teve uma trajetória única, incomparável e que deixa de legado uma bela história de vida e uma família estruturada, com todos os membros reconhecidos na sociedade por serem pessoas educadas e do bem.

De acordo com o escritor Bruno Radunz ela viveu uma vida bem vivida, intensa, como ela sempre foi, jamais esmorecendo aos primeiros empecilhos – mãe, esposa e avó, bisavó e trisavó exemplar, amiga, dona Emília sempre foi uma mulher determinada.

Essa determinação em viver aumentou quando conheceu seu eterno companheiro, Olivo Beal, com quem se casou em 24 de julho de 1940, em Joaçaba (SC) mudando o seu destino e o de sua família.

Seu esposo Olivo era viajante e resolveu trabalhar com hotel. Porém, não deixou de lado as viagens, especialmente para o interior, onde a melhor condução era o bom e velho cavalo. Sempre almejavam um novo horizonte, faziam planos, no entretanto, o destino lhes reservara outros caminhos bem longe de onde moravam.

O primeiro contato com o Oeste do Paraná foi quando o irmão de dona Emília, Arthur Leduc, veio morar em Marechal Cândido Rondon, em 1951. O casal Beal veio visitar Artur e se apaixonou pelo local.

A Colonizadora Maripá havia iniciado a construção de um hotel maior e mais “moderno”, que atendesse as necessidades atuais nesse setor. Foi então que o diretor da colonizadora, Willy Barth, tomou conhecimento de que Olivo e Emília eram proprietários de um hotel em Santa Catarina (Hotel União).

Logo fez o convite, praticamente intimando para que o casal vendesse o hotel e viesse para Toledo assumir o novo estabelecimento. Toledo, nessa época, necessitava urgentemente de um hotel mais adequado para atender a grande demanda de interessados na compra de terras da “Nova Canaã da Bíblia”, termo usado pelo amigo da família, o saudoso Dr. Avelino Campagnolo.

TOLEDO COMO DESTINO

Como o destino a gente não escolhe, rapidamente a família vendeu o hotel em Joaçaba e em 26 de agosto de 1952, a família Beal finalmente chegava em Toledo; nesse tempo, um pequeno povoado, onde construíram com muito sacrifício uma história que para ser contada, precisa ser escrita a lápis, mas passada a limpo com o coração.

Os pais de dona Emília vieram juntos e chegaram a permanecer um tempo na cidade, até que o Duque Hotel estivesse instalado. Na viagem, veio junto a família de Arlindo Grizza, compadre da família que ajudou na construção do hotel. Outra pessoa que também veio junto e ajudou muito o casal foi o Sr. Marcelino Adami, que era carpinteiro e vidraceiro.

O Duque Hotel foi instalado na Rua Sete de Setembro, numa construção iniciada pela Maripá e recebeu este nome em homenagem ao pai de dona Emília Victorio Luiz Leduc, que era sócio do hotel; o sobrenome “Le Duc”, traduzido do francês, significa: “O Duque”, portanto, um nome apropriadamente comercial.

Certa feita, perguntaram a dona Emília se ela sentiu medo em vir morar aqui, pois era apenas uma nascente cidade, com os filhos Diana, Vítor e Dione, ainda pequenos, e ela foi incisiva na resposta, assim como sempre foram permeadas as suas decisões: “Eu principalmente gostei muito do lugar, sempre gostei de coisas do interior e vi em Toledo um lugar de futuro e que junto com meu esposo não titubeamos um só momento em construir um hotel no meio do mato.”

LIÇÃO DE VIDA

Sempre ao lado do esposo Olivo Beal, dona Emília foi o elo de sustentação da família, especialmente porque, além de ajudar a administrar o hotel, ainda encontrava tempo para educar os filhos.

Dona Emília tivera uma infância difícil, principalmente devido à perseguição imposta por Getúlio Dornelles Vargas, por volta de 1935 (em virtude da família ter ideologia política contrária à do Presidente da República) o que a impediu de estudar e sua família, muitas vezes, teve que se esconder no campo. O pai perdeu o posto de coletor e ela, desde cedo, precisou ajudar a família a se sustentar. Foi o motivo que levou ela a dar todo o esmero na educação dos filhos, e também preocupada com os filhos dos outros, lutou para a implantação de algumas escolas aqui em Toledo, como o Colégio La Salle e o Incomar.

Mantiveram o Duque Hotel por dez anos, além dos hotéis Palace, Niágara, Toledo e Itaúna, cessando as atividades em 1978, quando Olivo Beal faleceu. Foram quase 30 anos no ramo de hotéis e restaurantes, deixando um marco no Oeste do Paraná.

Para dona Emília, que aqui chegou em 1952, o crescimento da cidade foi algo até certo ponto previsível, pois todos tinham a esperança que iria dar certo. Segundo ela, em entrevista ao Jornal do Oeste quando completou 80 anos de vida, resumiu em uma simples frase toda a epopeia vivida: – Custou, mas a cidade está aí, Toledo está muito grande!

Ela nos deixou uma mensagem final: – “Espero que os filhos de Toledo continuem no mesmo pensamento dos pais, não apenas daqueles que foram os pioneiros, que continuem lutando pela cidade que será deles e das futuras gerações que virão depois deles”.

*Bruno Marcos Radunz, escritor e amigo da família.

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