Economia internacional: especialista fala sobre impactos do tarifaço

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O mês de agosto começa gerando preocupação no setor econômico no Brasil e no mundo. O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que inicialmente entraria em vigor em 1º de agosto de 2025, foi adiado para o dia 7 de agosto. A medida impõe tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, tornando o Brasil o país mais afetado entre os 68 atingidos pela nova política comercial dos Estados Unidos. A professora e doutora em Economia Mirian Beatriz Schneider, docente da Unioeste campus Toledo, falou sobre esse tema no podcast ‘Algo a Mais’ com a editora-chefe Bruna Manfroi, na última sexta-feira (1º).

No programa ela comentou o significado de tarifa, que é era um instrumento inicialmente cobrado para manter um porto; cobrava a taxa das negociações entre os países para manter o local. A partir do incremento do comércio internacional, Mirian explica que a tarifa se tornou cada vez mais um instrumento importante de regulação do comércio e de proteção. “O Brasil é um país que sempre teve muita tarifa para produtos industriais para tentar apoiar a indústria brasileira. Mesmo alguns setores agrícolas tem um contexto de proteção e é necessário; ela bem usada é um instrumento importante de proteção aos setores internos”.

No caso do tarifaço, a professora cita que o governo americano vai cobrar 50% dos produtos brasileiros que forem ingressar no país. Esse novo pacote de tarifas de importação imposto pelos Estados Unidos desequilibra o comércio internacional. “Porque vira um jogo de perde-perde. Por mais que o governo americano incremente as tarifas, ele vai ter um aumento de preço interno. A sua população perde qualidade de vida, as ‘coisas’ ficam mais caras”.

A professora Mirian cita também o impacto na cadeia produtiva e deu como exemplo duas grandes empresas áreas americanas que dependem do fornecimento da Embraer, tanto de aeronave como de peças, porque a Embraer é a principal produtora de aeronaves de trajetos curtos. “Isso impacta em toda a cadeia aérea”.

INSTABILIDADE – O tarifaço também provoca a instabilidade, a imprevisibilidade. Mirian falou no podcast ‘Algo a Mais’ que um grande investidor leva em torno de 10 a 15 anos para ter retorno do seu negócio. Como será esse investimento nessa instabilidade gerada com o tarifaço se na próxima semana pode mudar tudo, pode haver uma negociação?

“Na minha perspectiva qual é a proposta por detrás disso? O governo americano vai endividar bastante e para equilibrar a suas contas, para compensar de certa forma ele está fazendo duas coisas: aumentar as tarifa para diminuir as importações deles e fazendo políticas para desvalorizar os dólar o que aumenta as exportações deles. É um mecanismo para colocar o balanço de pagamento em um novo patamar”, pontuou a economista.

Ela lembrou que o Brasil era um país que comprava mais deles [EUA] que eles de nós, por isso não seria um objeto de tarifas. “Mas temos o lance das big techs. O primeiro ponto é o Pix que é gratuito e as empresas de cartões de crédito estão perdendo mercado. O volume de dinheiro que giram ao redor do Pix é enorme, imagina uma ‘taxinha’ em cima disso que deixa de existir? É uma pressão muito grande. A outra são as empresas de redes sociais que estão começando a sofrer sanções no mundo todo por conta das fake news e do crime que acontece quando grupos se organizam em competições”.

NEGOCIAÇÃO – A professora e doutora em Economia Mirian Beatriz Schneider acredita que essa é a principal base e que ficou muito claro quando nesta semana o presidente dos Estados Unidos Donald Trump diminui pela metade o número dos produtos taxados.

Com o adiamento do tarifaço para mais seis dias, por conta das negociações, a economista acredita que possa calibrar as decisões de tal forma que os americanos fiquem com uma tarifa com média de 15% a 20%. “Foi um teste de esforço do poder americano para ver até quando ele pode ir e a reação de países como a China, Índia e países da Europa que mostraram que há um enfrentamento, os países em sua maioria os mais fortes. O nosso problema é que não havia negociação até essa semana. Ninguém era recebido”.

Mirian exemplificou que o presidente Trump negocia com a economia americana como negocia com uma empresa. “Um país não fecha, não pode operar como uma empresa. O estado gerencia um país de uma forma diferente que um gerente administra uma empresa. A minha preocupação é o quanto isso vai impactar no comércio internacional? Tem a carne e o peixe no Paraná que é um produto como o suco de laranja, que vai para países de alta renda. Achar outro mercado é o problema. Agora o Estado tem que entrar e socorrer o pessoal, os produtores”.

Ela lembrou que o presidente Trump já colocou tarifa sobre madeira, sobre ferro e aço no primeiro mandato dele, e na época o escândalo não foi tão grande. “Na minha opinião ele fez essa parte política para dar maior visibilidade a essa nova posição dele. Eu ainda acho que vamos conseguir renegociar, ou seja, abriu-se a negociação. E a partir que abrir vai tirar interferência política porque para mim é uma estratégia para chamar a atenção”.

REPERCUSSÃO – E qual o impacto e a repercussão do tarifaço neste primeiro momento? A professora e doutora Mirian citou que o brasileiro está muito inseguro, não vai gastar e isso pode refletir no comercio local. “O preço da carne cai muito e para o consumidor pode ser bom no primeiro momento, mas tem uma cadeia que pode ser afetada. Se não conseguimos exportar porque ficou caro, o produto fica no mercado interno no primeiro momento e pode baixar. Mas a minha preocupação é a incerteza. O produtor de peixe vendeu muito barato e quanto tempo ele vai levar para arrumar a ‘casa’? Por isso a minha maior preocupação é a incerteza que vai afetar preços. Eu vou deixar de investir, vou deixar de ofertar, se eu não investir o preço sobe porque não tem oferta. A cadeia de investimento é o que me preocupa”, conclui.

Da Redação

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