Imigrantes haitianos celebram o Dia da Bandeira do Haiti com festa cultural em Toledo

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No próximo dia 18 de maio, imigrantes haitianos que vivem em Toledo celebrarão uma data importante, o Dia da Bandeira do Haiti. A comemoração, organizada pela Embaixada Solidária em parceria com o “Mouviman Ayisyen Lib e Endepandan” (MALE), tem como objetivo resgatar a cultura e a identidade do povo haitiano, além de promover o intercâmbio cultural com a comunidade brasileira.
A celebração marca um momento histórico. Em 18 de maio de 1803, foi criada a bandeira nacional do Haiti, símbolo da união entre os escravos na luta pela liberdade. Nessa data, a bandeira da França foi retirada e substituída por uma nova, que representa a resiliência e a resistência de um povo que sonhava com a independência.
Segundo o advogado e haitiano, coordenador geral do MALE, Pierre-Erick Bruny, a festividade brasileira que mais se assemelha a essa celebração é o 7 de setembro. “Essa é uma manifestação oficial do Estado para a celebração de uma marca histórica, a mais importante do país”, esclarece. Desfiles, músicas e pratos típicos também são destaques neste dia especial.
Pierre destaca ainda a importância de valorizar a presença haitiana no município. “Esta é uma comunidade que está inserida no município. Nós temos que entender o que os haitianos têm de bom para oferecer para a cidade. Para a comunidade imigratória é fundamental que tenha um espaço em que possa se reconectar, é uma reconexão com tudo aquilo que a pessoa viveu a vida inteira.”
Deixar tudo para trás e recomeçar em outro país é um grande desafio. “Nós carregamos uma riqueza cultural, histórica e intelectual. Como vamos colocar isso? Quando nós chegamos, precisamos sobreviver. Para sobreviver, muitas vezes, tudo fica para trás”, afirma.
Segundo ele, muitos haitianos são injustamente pré-julgados, como se não tivessem algo relevante a oferecer à cidade, desabafa. “Eles têm muito para oferecer, mas muitas vezes não têm espaço para que possam oferecer o que possuem de bom para a cidade. O que precisamos é aproveitar dos imigrantes não só aquilo que proporcionam para as empresas, mas também o que podem contribuir para o meio acadêmico e cultural.”
Toledo abriga imigrantes de 42 nacionalidades. Entre eles, há médicos, advogados, psicólogos, filósofos, sociólogos e outros profissionais com formação acadêmica, inclusive com mestrado e doutorado. No entanto, como explica Pierre, muitos ocultam sua escolaridade nos currículos para aumentarem as chances de conseguir emprego. Isso significa que, além da força de trabalho braçal, existe também uma contribuição intelectual significativa, embora muitas vezes invisível.
Para ele, é essencial promover um intercâmbio cultural genuíno e uma colaboração mútua entre os toledanos e os imigrantes. Essa troca beneficia tanto quem acolhe quanto quem foi acolhido, e pode até mesmo gerar impactos positivos nas famílias que permanecem no Haiti.
EVENTO -Com o objetivo de provocar reflexões sobre pertencimento, identidade e responsabilidade social, a celebração em Toledo contará com momentos simbólicos e expressivos. “Nós entendemos que esta é a revolução do ser humano. Os haitianos devem estar conscientes de sua responsabilidade. Eu diria até que é uma responsabilidade moral. Eu tenho uma responsabilidade no país onde estou e também do meu país. Será que é esse o país que quero deixar para a futura geração e eu quero retribuir para que eu possa deixa-lo melhor?”, questiona Pierre.
A programação incluirá apresentações de músicas tradicionais haitianas, que remetem à luta e à resistência do povo, bem como declamação de poesias, danças e trajes típicos. Na parte gastronômica, serão servidos pratos típicos do Haiti, como banana-da-terra frita, carne frita, arroz, feijão, salada e uma bebida tradicional do país.
“Ao brasileiro, digo que tem que estar presente lá. Este é um momento de inserção e de compreensão de quem são estes imigrantes”, convida Pierre. A entrada e a alimentação são gratuitas, devido ao apoio da Lei de Incentivo Cultural (Lei 195/22). O evento será realizado no Centro Cultural Desire Refosco, na Vila Pioneira, das 11h às 17h.
Da Redação
TOLEDO