Escolas do Paraná são finalistas na Restaura Natureza 2025

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Em tempos de mudanças climáticas e crescente preocupação com o meio ambiente, a rede estadual de educação do Paraná vem se destacando em sua participação na Olimpíada Nacional de Recuperação de Ecossistemas – Restaura Natureza. Três colégios, dos municípios de Irati, Toledo e Novo Itacolomi, representam o Estado com quatro projetos entre os 89 finalistas. No total, 21 estados participam da Olimpíada.

Realizada pela WWF-Brasil, em parceria com a associação Quero na Escola, a Restaura Natureza tem como proposta despertar uma nova consciência em relação a hábitos sustentáveis, com a comunidade escolar como elemento central. Em sua terceira edição – as anteriores foram realizadas em 2022 e 2023, a Olimpíada é voltada para estudantes de escolas de todos os entes da federação, públicas ou privadas, do 7° ao 9° ano do Ensino Fundamental e da primeira e segunda séries do Ensino Médio.

Para além do destaque na participação na Olimpíada, os projetos desenvolvidos pelas escolas mostram o engajamento de professores e estudantes em pensar e pôr em prática pequenas ações capazes de impactar na conservação e, principalmente, na restauração do meio ambiente.

“Entendemos esse sucesso na Olimpíada como uma coroação da qualidade do ensino no Paraná”, afirma o secretário estadual da Educação, Roni Miranda. “Porque isso mostra que a educação dos nossos alunos vai para além da sala de aula: ela forma pessoas com capacidade de transformar não só sua realidade, mas também o mundo ao seu redor”, acrescenta o secretário.

IRATI – O Centro Estadual Florestal de Educação Profissional Presidente Costa e Silva, de Irati, no Centro-Sul, já desenvolvia um projeto de recuperação em uma Área de Preservação Permanente (APP) junto a um córrego, nas dependências do colégio. Por isso, quando ouviu falar da Olimpíada em um grupo de professores do colégio, a professora Ana Caroline Mosele já sabia o que fazer.

O projeto “Guardiões da Conservação” envolveu alunos da 2ª série do Ensino Médio profissionalizante e funcionários da escola no plantio de espécies nativas, que poderão fornecer alimentação, abrigo e pontos de nidificação (construção de ninhos) para a fauna, além de beneficiar o córrego com a recuperação da mata ciliar. Em paralelo, foram organizadas leituras e discussões sobre conservação ambiental para a conscientização dos estudantes. 

“A educação ambiental faz parte do dia a dia dos nossos alunos”, explica Ana Caroline. “Trabalhamos rotineiramente com ações sustentáveis que desenvolvem habilidades extremamente valiosas para o futuro dos nossos estudantes”.

Para Maria Eduarda Nogueira Soares, 16 anos, uma das participantes do projeto, a atenção às questões ambientais é urgente e a escola é uma porta de entrada perfeita para o assunto. “Abordar esses temas desde a escola é muito importante, onde podemos desenvolver projetos como esse, influenciar outras pessoas e nos tornar adultos mais conscientes”, diz.

TOLEDO – “Na nossa escola, a educação ambiental sempre foi tratada com grande relevância”, declara a professora Silvana Gomack Gomes, do Colégio Estadual Vereador Francisco Galdino de Lima, de Toledo, Oeste do Estado. “Há um cuidado coletivo, tanto por parte da equipe pedagógica quanto dos alunos, para que a sustentabilidade esteja presente no dia a dia”.

A ação “Tampinhas que Restauram” se originou de uma atividade desenvolvida pelos alunos desde o ano passado e que se encaixava perfeitamente com a proposta da Olimpíada. “Vendo sua relevância, resolvi me inscrever e ajustar o projeto já existente, agregando novas práticas e ampliando seu impacto”, explica Silvana, que coordenou o projeto e tomou conhecimento da Restaura Natureza por intermédio de uma colega.

Segundo ela, o projeto também envolveu um componente afetivo: a área escolhida para restauração foi a trilha do parque linear Sanga Panambi, que fica a menos de 500 metros da escola. Localizado na vila industrial de Toledo, o parque é um local conhecido e muito frequentado pelos alunos.

“Muitos deles moram nos arredores e enxergam a Sanga como uma extensão da sua comunidade, o que fortalece o sentimento de pertencimento”, conta Silvana. Cerca de 30 estudantes participaram ativamente na coleta de tampinhas e outros materiais descartados indevidamente ao longo dos 1.500 metros da trilha do parque, além de também terem praticado o plantio de espécies nativas para a recuperação da área.

A aluna do 9º ano Heloysa de Oliveira, 13 anos, considera que sua participação no projeto ultrapassou os muros da sala de aula. “Me ajudou a ver um mundo diferente, sem telas e em contato com a natureza e perceber que cada ação conta”, afirma. “E também ajudou a me aproximar dos meus colegas e professores”.

O impacto do projeto nos alunos não escapou à percepção da professora Silvana, que observou entusiasmo constante e muito positivo. “Durante as caminhadas para coleta no Sanga Panambi, eles se envolvem com alegria, observam o ambiente ao redor com atenção e curiosidade”, diz ela, orgulhosa. “A vivência tem despertado um senso coletivo de responsabilidade ambiental que se fortalece a cada etapa do projeto”, acrescenta a professora.

NOVO ITACOLOMI – O Colégio Estadual Tomé de Souza, do município de Novo Itacolomi, no Vale do Ivaí, está representando o Estado na Olimpíada não com um, mas dois projetos finalistas.

Responsável pela coordenação de ambos, a professora Jéssica Garcia atribui essa conquista à maneira como a questão do meio ambiente é abordada na escola. “Aqui a educação ambiental é tratada como um tema transversal, sendo trabalhada de forma integrada aos componentes curriculares, principalmente nas áreas de Ciências, Biologia, Biotecnologia, Projeto de Vida e Artes”, diz Jéssica.

A ideia de participar da Restaura Natureza nasceu quando Jéssica soube da Olimpíada e percebeu a oportunidade de integrar os objetivos da disciplina de Biotecnologia ao tema da restauração ambiental. “Apresentei a ideia aos alunos e eles toparam na hora”, conta a professora. “Dividimos a turma em três grupos: resíduos sólidos, degradação ambiental e combate à dengue. Eles mesmos escolheram os temas após pesquisas no site da Olimpíada”.

Cada grupo desenvolveu um projeto que foi inscrito na Olimpíada, mas os que chegaram como finalistas à etapa nacional foram o “Restauradores do Futuro” e o “Time Recicla+”. O primeiro consistiu no plantio de 121 mudas nativas em três áreas distintas, que totalizaram mais de um hectare recuperado. Já o segundo teve como proposta a gestão de resíduos nas dependências do colégio, com a implantação de lixeiras seletivas. 

As ações envolveram o município em um movimento de transformação socioambiental que contou com o apoio do poder público, de produtores rurais, moradores e entidades, como a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Associação de Catadores de Novo Itacolomi.

“A comunidade foi bastante participativa”, lembra Matheus Gonçalves de Souza, aluno da 2ª série do Ensino Médio, de 16 anos, um dos integrantes do Time Recicla+. “Embora separar o lixo reciclável ainda seja um grande problema de maneira geral, ações como essa são capazes de mobilizar ajuda”, afirma.

“Mesmo tendo aulas sobre o meio ambiente no âmbito escolar, poder colocar esse conhecimento em prática me fez rever simples atitudes cotidianas e procurar maneiras de melhorá-las e minimizar os impactos ambientais”, pondera Maryanni Silva Torres, 17 anos, também da 2ª série do Ensino Médio e integrante do projeto Restauradores do Futuro. “O projeto teve muitos envolvidos e tenho certeza de que todos começaram a enxergar a natureza com um olhar mais cuidadoso”.

A participação na Olimpíada mostrou que, quando estudantes, professores, poder público e comunidade caminham juntos, os resultados vão muito além do previsto. “Não é apenas sobre plantar árvores ou separar o lixo, mas sobre entender que fazemos parte do meio ambiente e que nossas ações têm impacto no mundo”, diz a professora Jéssica.

RESTAURA NATUREZA – A Olimpíada foi dividida em duas fases simultâneas: na online, individual, que ficou disponível no site do evento entre 04 de fevereiro e 15 de maio, o aluno devia responder a 10 quizzes relacionados à temática ambiental, cada um com nota máxima 10. Além disso, era possível convidar outros alunos para responder aos quizzes, o que garantia mais dois pontos a cada novo participante. 

Já a fase prática consistiu na elaboração, execução e registro de uma ação com o tema “Restauração de Ecossistemas”. As equipes, formadas por até cinco alunos e um professor responsável, tiveram entre 04 de fevereiro e 1.º de junho para desenvolver suas iniciativas e registrá-las na plataforma da Olimpíada.

Os planos de ação apresentados e selecionados para a fase final concorrem em duas categorias de premiação: Votação Popular e Avaliação da Comissão Técnica Julgadora. Na primeira, qualquer pessoa poderia votar no projeto que escolhesse (o prazo final foi dia 30 de junho), com cada voto somando um ponto; na segunda, a comissão técnica considera cinco critérios para atribuir pontuação ao projeto (engajamento, comunicação, técnica restauradora, diversidade de espécies nativas, área restaurada), podendo totalizar até 1.000 pontos.

Essa pontuação é, então, somada àquela adquirida na fase online por cada um dos alunos integrantes do grupo.

Serão premiados os cinco projetos melhor avaliados em cada categoria, sendo que os integrantes da equipe que ficar em primeiro lugar na avaliação da comissão ganharão uma viagem, com todas as despesas pagas, para visitar o Instituto Terra, localizado na cidade de Aimorés (MG), criado pelo fotógrafo Sebastião Salgado juntamente com sua esposa Lélia, e que se tornou uma referência internacional ao restaurar uma área de mata atlântica, até então degradada, com o plantio de mais de 3,5 milhões de árvores nativas. 

Os vencedores serão anunciados em agosto, em cerimônia de encerramento que será transmitida pela internet.

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