Polo suinícola de Toledo reúne especialistas para traçar futuro sustentável da produção
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O Estado do Paraná ocupa posição de destaque no cenário nacional ao figurar como o segundo maior produtor de suínos do Brasil, desempenhando papel estratégico tanto no abastecimento interno quanto na consolidação das exportações do setor. Neste contexto, o município de Toledo afirma-se como o principal produtor do estado, constituindo um dos mais robustos e tecnificados polos suinícolas do Brasil, cujo impacto econômico, social e ambiental é amplo e decisivo para o desenvolvimento regional. Para colaborar com a temática, os membros da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Câmara de Vereadores de Toledo promoveram, na tarde de quinta-feira (27), a audiência pública. Ela reuniu produtores de suínos, pesquisadores e representantes de outras instituições. O encontro buscou fortalecer a discussão sobre o futuro da atividade e encontrar caminhos para superar os desafios enfrentados pelo setor.
Com um plantel expressivo, altamente tecnificado e concentrado, o município enfrenta desafios progressivamente maiores relacionados à capacidade de suporte das propriedades rurais, sobretudo no que se refere ao manejo adequado dos macronutrientes presentes nos dejetos suínos.
A elevada densidade produtiva demanda a adoção de soluções inovadoras, ambientalmente sustentáveis e tecnicamente robustos, capazes de garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento agroindustrial, a proteção ambiental, a competividade do setor e o rigoroso atendimento às normas legais e sanitárias vigentes.
Além dos aspectos ambientais, o setor suinícola enfrenta desafios tecnológicos de grande relevância, que abrangem desde a modernização
dos processos produtivos e o aprimoramento das soluções de tratamento de resíduos até a elevação dos padrões de qualidade, biossegurança e competividade das carcaças destinadas aos mercados nacional e internacional.
Neste contexto, a incorporação, difusão e validação de novas tecnologias tornam-se essenciais para assegurar sustentabilidade, ganho de produtividade e pleno atendimento às exigências sanitárias, normativas e comerciais que caracterizam o cenário contemporâneo da suinocultura.
Importa, destacar, contudo, que apesar de sua relevância econômica e social, a suinocultura enfrenta um desafio adicional relacionado à permanência das novas gerações no campo. Muitos familiares têm demonstrado resistência ou falta de interesse em dar continuidade ao trabalho nas unidades produtivas, seja pelas exigências operacionais da atividade, pelas condições de trabalho ou pela percepção de maiores oportunidade fora do meio rural.
Essa realidade evidencia a necessidade de modernização, melhoria das condições produtivas e incorporação de tecnologias que tornem a atividade mais atrativa, eficiente e compatível com as expectativas das famílias rurais contemporâneas.
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Chumbinho Silva pontua desafios da suinocultura
A suinocultura enfrenta altos e baixos que têm preocupado produtores da região. Segundo o vereador Chumbinho Silva, a atividade vive momentos de instabilidade e a falta de estímulo à sucessão familiar agrava ainda mais o cenário.
“Os técnicos que conhecem o setor sabem das dificuldades. Eu ando pelo município de ponta a ponta e senti a obrigação de trazer esse movimento para a Câmara de Vereadores, que é a casa do povo”, afirmou.
O parlamentar ressaltou que o debate ficará registrado oficialmente para uso futuro e destacou a importância da participação dos suinocultores. Estiveram presentes produtores das comunidades de Vila Nova, Sol Nascente, Boa Vista, Linha União, KM 43 e Linha Flórida, representando diferentes regiões do município.
Diretor da Nuresys destaca a transição energética na suinocultura
O diretor executivo da Nuresys do Brasil Cícero Bley Jr. destacou a importância de ouvir a parte técnica do setor. Para ele, “tudo é conhecimento” e cada informação contribui para o desenvolvimento dos produtores.
Ele lembrou que Toledo é referência nacional em proteína animal e que o movimento em torno da modernização da suinocultura nasceu justamente da necessidade de levar tecnologia ao produtor, até chegar, inclusive, ao uso do biometano como alternativa energética.
Ao abordar os desafios da atividade, o diretor ressaltou que a sucessão familiar deve ser pensada de forma integrada às transformações tecnológicas. “A sucessão precisa acontecer de forma harmônica, de pai para filho, mas sem ignorar a evolução tecnológica, as novas frentes, produtos e atribuições”, afirmou. Ele destacou ainda que Toledo se sobressai nesse processo, especialmente na regulação genética de suínos, algo “sem precedentes na história” do setor, em meio às mudanças climáticas.
O dirigente contextualizou também o cenário energético global, lembrando que universidades de vários países alertam para os impactos do uso de combustíveis fósseis. “O combustível líquido vindo do petróleo conduz à poluição da atmosfera. A humanidade está precisando mudar”, salientou.
Nos últimos 15 dias, segundo ele, foram realizadas reuniões com produtores para construir consensos. A meta é avançar sem criar “ganhadores absolutos”, especialmente na transição do diesel para o biometano. “A audiência é parte desse caminho complexo”, observou.
Durante a audiência, ele apresentou ainda arranjos produtivos em andamento nos municípios de Rio Verde (GO), Toledo e Arapongas, além de arranjos já implantados em Entre Rios do Oeste e Marechal Cândido Rondon.
O diretor concluiu destacando que o futuro da suinocultura está baseado em competitividade, sustentabilidade, formação de competências e desenvolvimento da capacidade produtiva e inovadora.
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Presidente do Sintratol salienta os resultados positivos da adoção de biometano na frota
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Toledo (Sintratol) Allan Tressi apresentou os avanços obtidos com a implementação do biometano na frota da Transportadora Tressi.
De acordo com Tressi, um equipamento híbrido foi instalado nos veículos, permitindo o uso combinado de diesel e de biometano.
Tressi explicou que o kit híbrido é composto por um cilindro e funciona de forma simples. “O sistema injeta o gás associado ao diesel sem necessidade de alterações no motor original. Usamos o gás para compensar a potência do caminhão. Com isso, é possível aumentar a média de consumo e o uso de biometano é pequeno”, afirmou.
Além de melhorar o desempenho, o sistema proporciona economia financeira e redução na emissão de gás carbônico. “A teoria funciona. Estamos tendo resultados satisfatórios, viabilizando o investimento e trazendo economia de dinheiro”, destacou o presidente do Sindicato.
A transportadora segue avaliando a performance do modelo híbrido, que tem se mostrado promissor para fortalecer práticas sustentáveis no setor de transporte.
Pesquisadores da Unioeste apresentam avanços em tecnologias de biogás, biometano e hidrogênio
A pesquisadora Caroline Ribeiro, integrante do grupo de pesquisa LaBioSimP da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Toledo, e os demais pesquisadores da instituição apresentaram os trabalhos que são desenvolvidos pela equipe nos últimos anos.
Caroline afirmou que o grupo tem buscado novas tecnologias e contribuído diretamente para o avanço científico dentro da universidade. Ela citou como exemplos o Novo Arranjo de Pesquisa em Hidrogênio e na cadeia do Biogás, iniciativa que pretende impulsionar o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao biometano e ao hidrogênio renovável no estado.
O grupo tem como foco ainda o aperfeiçoamento dos processos de transformação do biogás em biometano. As linhas de estudo incluem modelagem, simulação e otimização de processos, com temas que envolvem desde a conversão do biogás em hidrogênio renovável até a recuperação de nutrientes provenientes dos resíduos da suinocultura.
De acordo com Caroline, a atuação do LaBioSimP busca aproximar a pesquisa acadêmica das demandas reais do setor, contribuindo para soluções sustentáveis e inovadoras.
Promotor de Justiça destaca modernização da suinocultura e alerta para desafios ambientais e jurídicos
O promotor de Justiça Giovani Ferri disse, durante a audiência pública, que tem acompanhado de perto a evolução do setor de suinocultura no município de Toledo. Ele lembrou que, ao assumir a Promotoria de Meio Ambiente, a realidade era bastante distinta há 20 anos. “Eu recebia entre 250 e 300 problemas por ano relacionados à suinocultura em meu gabinete. Hoje, esse número não chega a 20”, relatou.
Ferri atribuiu essa mudança à crescente conscientização dos produtores sobre suas responsabilidades socioambientais. “Além disso, atividade se modernizou. O suinocultor entendeu que precisa atender a um tripé: econômico, ambiental e sanitário”, mencionou.
O promotor também ressaltou que os desafios econômicos continuam significativos, especialmente porque o setor não tem força para determinar o preço de mercado, que depende de fatores externos, como exportações e parceiros comerciais. “Infelizmente, o suíno é um produto de baixo valor agregado. Os altos e os baixos estão diretamente ligados ao cenário econômico”, revelou.
De acordo com Ferri, a transformação do setor só foi possível com a mudança de mentalidade. “Precisamos esquecer a agricultura rudimentar. Vocês são empresários”. Ele reforçou a importância do apoio técnico e jurídico, alertando que única ação ambiental ou trabalhista pode comprometer todo o lucro de um produtor. “A suinocultura é uma atividade empresarial e exige boa administração, conhecimento da legislação e dos caminhos jurídicos”.
O promotor também destacou que o cumprimento das normas sanitárias fortaleceu a cadeia produtiva. No entanto, alertou que áreas com problemas fundiários ou risco de grilagem precisam redobrar a atenção com essas regras, pois o impacto de falhas pode ser “gigantesco”.
No campo ambiental, Ferri apontou dois problemas recorrentes que ainda chegam ao Ministério Público: o tratamento e a destinação dos dejetos e o manejo de carcaças. Ele defendeu que a rentabilidade do setor só avançará quando esses desafios forem transformados em soluções capazes de agregar valor.
“Toledo é o maior produtor de suínos do estado. Isso traz consigo um problema econômico e ambiental. O setor só poderá expandir com segurança se houver investimento em grandes áreas para lagoas de redução de volume e melhor aproveitamento dos resíduos”. O uso de biofertilizante também foi citado como alternativa viável.
Ferri reforçou o papel das universidades e a importância do diálogo entre as instituições. “Os debates são salutares. Precisamos ouvir opiniões e buscar soluções que atendam ao setor”. O promotor concluiu ao destacar que a responsabilidade técnica e planejamento são fundamentais para garantir o futuro sustentável da suinocultura.
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Secretário de Agricultura menciona impacto econômico da suinocultura
O secretário de Agricultura de Toledo Luíz Carlos Bombardelli afirmou que a suinocultura tem papel central na economia do município, representando 42% do Valor Bruto da Produção (VBP). Apesar da força do setor, ele destacou que ainda existem desafios importantes relacionados ao manejo de resíduos, especialmente carcaças e dejetos.
Bombardelli esclareceu que o descarte de carcaças é um dos problemas mais sensíveis enfrentados pelos produtores. “A falta de espaço e o desconforto no processo geram transtornos. Muitas vezes é necessário fracionar as carcaças para realizar a compostagem”.
Para enfrentar o problema, a Secretaria trabalha em um projeto com uma empresa especializada, que poderá oferecer um destino final legalizado e ambientalmente adequado para esse material.
Outro obstáculo citado pelo secretário diz respeito aos dejetos, que frequentemente impedem os produtores de ampliar suas granjas. “Embora a instalação de biodigestores seja uma alternativa para produzir biogás e biometano, o processo ainda exige etapas complexas. É preciso separar o fósforo e a amônia para obter um líquido final sem contaminar solo”.
Segundo ele, o município segue buscando soluções técnicas e sustentáveis para permitir que o setor continue crescendo sem comprometer o meio ambiente.
Gerente do Sicredi alerta para dificuldades de financiamento na suinocultura
O gerente da agência Agro da Sicredi Progresso, em Toledo, Vanderlei Hertz ressaltou durante a audiência a necessidade de que todo produtor esteja atento às exigências ambientais antes de iniciar um novo empreendimento ou ao realizar reformas nas propriedades. “O primeiro documento a ser analisado é o ambiental. O produtor precisa se adequar”, afirmou.
Hertz também comentou o impacto econômico enfrentado pelo setor e sua relação com o acesso ao crédito. Ele explicou que o tripé financeiro tem sido pressionado pela redução da receita dos suinocultores e pelos altos juros, que têm inviabilizado projetos e reduzido a procura por financiamentos. “Isso nos preocupa. Precisamos transformar esses desafios em ativos. O produtor deve ter segurança para conseguir financiar”, citou.
O gerente parabenizou a Associação Regional de Suinocultores do Oeste (Assuinoeste) pelo trabalho de articulação e representação do setor, reforçando a importância da entidade para fortalecer os suinocultores, levar suas demandas às integradoras e promover novos projetos. “Peço que os produtores participem e apoiem a Associação”.
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Assuinoeste completa 50 anos e realiza alguns alertas à atividade
Durante audiência pública, Edson Pacheco, representante da diretoria da Associação Regional de Suinocultores do Oeste (Assuinoeste) apresentou as principais preocupações da entidade, que neste ano completa 50 anos de atuação em defesa dos produtores da região. A Associação atua com as cidades que integram a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop).
Conforme Pacheco, o maior desafio do setor hoje está relacionado a sucessão familiar na suinocultura, o que coloca em risco a continuidade da atividade. “Tememos chegar a um futuro próximo sem produtores. As empresas perdem, o Estado perde. O Paraná é um mercado importante para o mundo, e nós, como Associação, precisamos chamar os suinocultores à responsabilidade”.
Pacheco argumentou que muitos produtores – especialmente os pequenos – enfrentam baixa rentabilidade, o que dificulta a permanência no campo e desestimula novas gerações a assumirem as propriedades familiares. Pacheco defendeu maior participação dos produtores nas discussões do setor. “Em qualquer debate que tratamos, é fundamental que o suinocultor esteja presente”.
Outro ponto abordado pelo profissional foi a regularização ambiental e sanitária. Pacheco ressaltou que, embora seja necessário fiscalizar, é igualmente importante orientar o suinocultor. “O produtor que age na irregularidade acaba sendo autuado. Precisamos de material educativo, como cartilhas, que expliquem claramente o que deve ser feito. A atividade é muito importante para o município e para o Estado”, disse.
A expansão das empresas integradoras também foi mencionada na audiência. Conforme Pacheco, municípios e companhias querem crescer, mas é preciso discutir se haverá condições adequadas para garantir melhores pagamentos ao produtor. Ele citou ainda a necessidade de debater preço mínimo e condições de financiamento.
Por fim, Pacheco reforçou que a Assuinoeste não é contra a ampliação do setor, mas defende que todas as ações devem respeitar a legislação vigente. “Cada empresa tem suas normas e todas precisam cumprir a lei”.
O presidente da Assuinoeste Delmar Briccius avaliou a audiência como positiva e destacou a importância de ampliar o diálogo com os produtores. “Vamos promover mais encontros e trazer mais suinocultores. Precisamos ouvir e ver de perto como está a situação da suinocultura”.
Ao encerrar a audiência, o vereador Chumbinho Silva agradeceu a participação do público e afirmou esperar que, em um próximo debate, a Unioeste apresente resultados completos das pesquisas em andamento. Segundo ele, a expectativa é que os suinocultores de Toledo possam produzir biometano em larga escala e que sejam encontradas soluções para o excesso de fósforo e amônia, substâncias que têm saturado o solo de Toledo e da região.
Da Redação
TOLEDO