Diante do cenário econômico, produtor de tilápia deve se reinventar

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Alguns frigoríficos e produtores de peixes enfrentam, mais uma vez, dificuldades. Desta vez, elas estão relacionadas à diminuição das vendas. Aumento dos custos de produção, concorrência com outros alimentos e diminuição na renda do consumidor são fatores que podem contribuir com a queda das vendas de tilápia.

Apesar do momento de apreensão, o segmento segue em crescimento no Paraná. Em 2024, o Estado produziu 17,35% a mais que o período anterior. O Paraná produziu no ano passado 245.115 toneladas de tilápia, o equivalente a 37% da produção nacional. O Oeste representa 85% dessa produção, com mais de 200 mil toneladas anuais, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) e do Sebrae/PR.

O consultor do Sebrae/PR Emerson Durso explica que apesar da cadeia ter passado pela Quaresma (quando a expectativa é para um período maior de consumo de peixe), existe uma grande oferta de peixe no mercado e ele não está sendo absorvido pela sociedade. “O pequeno frigorífico, por exemplo, não consegue colocar esse peixe no mercado e, por consequência, não adquire mais peixe do produtor. Com isso, o frigorífico e o produtor estão com estoques consideráveis”, pontua.

Diante deste cenário, Durso menciona que o produtor fica receoso em promover investimentos de melhorias em seu espaço. Segundo o consultor do Sebrae/PR, a expectativa é que a situação comercial melhore a partir do segundo semestre.

O médico veterinário do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) Gelson Hein explica ainda que o corte de peixe predominante na região Oeste do Estado é o filé de tilápia. “É um corte considerado nobre e, muitas vezes, ele não consegue competir, por exemplo, com a coxa de frango ou a paleta de suíno, que são opções de cortes escolhidos pelo consumidor. O preço do filé de tilápia não consegue competir com os preços de mercado destes cortes”.

Hein relata que o filé de tilápia sempre será o corte mais consumido pela população. “O comportamento do mercado é o reflexo da mesa do consumidor”. Ele enfatiza que o agravante é o cenário colocado após a Páscoa. “Geralmente, o consumo reduz neste período. São cerca de 90 dias com diminuição de consumo. Além disso, a Quaresma não atingiu a expectativa de venda”.

Vários produtores de tilápia estão com volume do peixe grande e eles não podem passar o inverno com estes animais em seus tanques. “O risco sanitário é preocupante. É um momento crítico para todo mundo. Quando falamos do pequeno produtor ou independente, o volume de produção comparada a integração, não chega a 20%”, destaca Hein ao recordar que em um passado próximo a piscicultura estava em um ritmo de ganho real acima de todas as carnes. “Um ganho de R$ 9,00; era um lucro fantástico, agora a atividade está empatando”.

CAPACITAÇÃO – Neste momento de apreensão, o produtor deve se reinventar. “Um especialista em filetagem e rendimento de carcaça deve promover um curso nos próximos dias. Assim, o produtor poderá ter um rendimento maior do filé”, informa Durso.

Ele complementa que o profissional passará um dia em cada frigorífico. “Estamos organizando a agenda para este mês ou em junho”. Durso recorda que nos anos de 2023 e 2024, os produtores alojaram muitos peixes nos tanques, gerando uma grande oferta no mercado, principalmente, de tilápia. Contudo, o mercado não absorveu. “Trata-se de uma situação momentânea (em minha opinião). A expectativa é que o cenário se regularize. Ainda assim, a atividade segue em expansão, pois observamos a movimentação da cooperativa, que possui outros canais de comercializações em todo o Brasil, diferentes dos pequenos produtores”.

Outra alternativa é a profissionalização do setor. “Precisamos nivelar a nossa produção por cima e elevar o nível da produção. O caminho é a profissionalização e investir em conhecimento, em tecnologia e em inovação”.

ORGANIZAÇÃO – O especialista em Agronegócios e consultor na área João Nogueira analisa que o pequeno produtor de peixe ou o pequeno frigorífico devem adquirir novas estratégias de trabalho, como formar um grupo para reduzir custos. “Sem dúvida, mais setores passam por situações semelhantes a cadeia de tilápia no Brasil: custo alto x renda menor”.

Nogueira explica que a sociedade, como um todo, consome a tilápia de uma forma mais seletiva. “Quando você vai ao supermercado percebe que os preços estão altos e comercializa com mais cuidado para respeitar o orçamento familiar”.

Conforme o consultor em Agronegócios, algumas empresas conseguem – através de uma escala de produção maior – ter mais pontos de vendas espalhados pelo Brasil e pelo exterior. “Com isso, elas conseguem colocar seus produtos com mais facilidade no mercado. Agora, os pequenos produtores não dispõem dessa estrutura e buscam o mercado mais próximo, no caso, o interno. Neste momento, as dificuldades surgem”.

OBSTÁCULOS – Um dos desafios do mercado interno é o índice da inflação. “A inflação está no nível ascendente. Além disso, os juros dificultam os investimentos. Eles já penalizam os grandes negócios e, sobretudo, os pequenos”, comenta Nogueira ao complementar que o Brasil vive um momento em que a taxa de juros está alta. “A inflação não cede e a renda do consumidor é afetada. O pequeno produtor não consegue diluir o seu custo por meio de uma escala de produção maior. Logo, a ideia de reunir um grupo de produtores é válida, porque o objetivo é reduzir o custo. Assim, o insumo não pesaria tanto no custo de produção”, enfatiza o especialista em Agronegócios.

Outro fator pontuado por Nogueira é que o Brasil vive uma conjuntura em que o preço do milho está – praticamente – estável. Ele encontra-se próximo a R$ 80,00 a saca. “Ao observar o preço de referência do milho – principal insumo utiliza na ração destinado à produção de peixe, de suíno e de ave – percebe-se que é o produto com maior liquidez no mercado. O Brasil é o principal produtor de proteína animal e também estamos diante de uma safra (que tudo leva a crer) que deve ser boa. Além disso, os Estados Unidos aumentou também a área de produção de grãos e a região Oeste do Paraná é a principal importadora de milho atualmente”.

Em síntese, o especialista em Agronegócios salienta que o preço do milho deve continuar durante o ano de 2025. “Isso significa que os custos de produção se manterão. Na outra ponta, o consumidor comprará com muita cautela, porque o orçamento desse consumidor também está sendo afetado devido a essa conjuntura econômica que nós vivemos. Uma conjuntura com uma inflação sustentada e com a expectativa que esses juros possam – incrivelmente – crescer ainda mais. Fala-se em juros básicos até o final do ano que pode chegar a 15% ao ano. Hoje, infelizmente, essa não é a realidade só para o produtor de tilápia, mas para a sociedade brasileira”, finaliza.

Projeto Tilápias do Oeste colabora na organização da atividade

Com os objetivos de otimizar a cadeia produtiva, fornecendo consultorias técnicas e capacitações para produtores e frigoríficos, o Sebrae/PR – em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Toledo e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) – desenvolve o projeto Tilápias do Oeste.

O consultor do Sebrae/PR Emerson Durso explica que a equipe mapeou os pequenos frigoríficos na região e o projeto atua em duas frentes de trabalho: uma direta nos frigoríficos e o foco é a consultoria para adequação às normas do Selo Susaf, que permite a venda do produto em todo Estado. “Na outra, atuamos diretamente com os produtores indicados pelos frigoríficos, enfatizando consultorias mensais para melhorar o manejo e aumentar a produtividade”.

O consultor do Sebrae/PR recorda que as visitas iniciaram no ano passado e a expectativa era que tivessem continuidade em 2025. “Queremos aproximar mais os frigoríficos, ou seja, que eles ‘conversem’ e desenvolvam ações coletivas”.

Entre os principais benefícios previstos no projeto estão a organização da produção, previsibilidade de biomassa de abate, fidelização dos fornecedores e a melhoria no rendimento de carcaça. “Neste ano, estamos nos esforçando para incluir outras Prefeituras como parceiras e no apoio ao Programa. Visitas estão sendo realizadas aos Municípios para apresentar o Tilápias do Oeste”, afirma Durso.

Ele complementa que os organizadores buscam a ampliação do projeto com a finalidade de atender um número maior de produtores. “O foco do Projeto em cada frigorífico é a adequação do processo para a conquista do Susaf, assim o produtor consegue comercializar o seu peixe em todo o Paraná”.

Ao mesmo tempo, o consultor do Sebrae/PR defende que a equipe envolvida no Projeto precisa capacitar o produtor para fornecer a tilápia com alta qualidade. “São questões que envolvem sanidade, produtividade e sustentabilidade”.

Da Redação

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