Empreendedorismo rural familiar: quando a produção de queijo transforma gerações

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Pelo caminho, o verde da natureza harmoniza com as plantações. Tem cheiro de mato, tem flores, tem pasto e no fim da estrada bem uma ‘casa’ cheia de arte, com as paredes pintadas, com poesia, com aconchego. É o campo ganhando espaço no que se refere ao mercado. É o empreendedorismo rural que ganha forças, que realiza sonhos, que tem transformado o Estado.

Sabe aquela parada que não pode ficar fora do trajeto? Aquela parada que consegue deixar com ‘água na boca’, que encanta os olhos diante da belezas naturais do local, que envolve carinho, dedicação e, sem dúvida, um tempero especial: assim são as paradas que integram a Rota do Queijo Paranaense e em uma dessas paradas está a Queijaria Átani.

Cheia de vida, repleta de sabores e com foco na excelência nos produtos e serviços prestados, no distrito de Vila Nova, em Toledo – no Oeste do Paraná –  está a Queijaria Átani. O local é um empreendimento familiar que mantém vivas as histórias da família e as tradições como a produção do queijo.

Integrar a Rota do Queijo Paranaense consolidou o empreendedorismo rural familiar. Em agosto deste ano, a empresária rural Cirlei Rossi dos Santos e o marido Everaldo Backs receberam a placa que identifica a queijaria como integrante da Rota. “Trabalhamos para que possamos entregar sempre o melhor. Nosso lema é que se for para fazer algo faça bem feito ou não faça. A queijaria existe faz seis anos, mas esse sonho é de longa data e posso afirmar que está apenas no começo. Temos muitas ideias para esse empreendimento”, salienta Cirlei.

DE QUEIJO EM QUEIJO – A queijaria é reflexo da herança da família. “Herdamos o prazer em produzir queijos, em zelar pelos animais, em promover momentos que criam memórias ao redor da mesa, ou seja, na refeição, na degustação de alimentos feitos com carinho, com cuidado, com preocupação no padrão de qualidade”, relata Cirlei ao citar que o seio familiar está no campo e o objetivo é continuar a vida ali e permitir que outras pessoas também possam viver essas experiências ao visitarem o local e ao experimentar os queijos.

Quem visita o espaço tem a oportunidade de conferir as etapas do processo de produção dos queijos. Cirlei explica que tudo acontece na propriedade, desde o rigoroso cuidado com os animais até as combinações e formas que os queijos são servidos.

Em meio a natureza e a tranquilidade do campo, a queijaria também se destaca nos detalhes estruturais: as pinturas artísticas nas paredes da casa retrataram a história da nona Lúcia Rossi e suas produções de queijos, além de outros ambientes da antiga residência da família.

O empreendimento enaltece a naturalidade do campo e as sensações que o contato com o meio ambiente podem trazer. “Já estamos em processo de expansão: a previsão é que no mês de dezembro iniciem os trabalhos de nosso restaurante. Esses primeiros atendimentos serão mediante agendamento para a realização de eventos. O cardápio vai envolver open de queijos com suas harmonizações e uma mesa com experiência sensorial – onde o cliente irá saborear os queijos com 30 dias, com 90 dias e com mais de 300 dias e identificar como o tempo de maturação interfere no sabor, entre outras harmonização e formas dele servido”, conta com entusiasmo.

O EMPREENDER QUE EDIFICA – O nome do empreendimento, Átani, é a junção dos nomes dos filhos do casal: Álexandre, Tais e Nicole. Segundo Cirlei, desde o início, a proposta da queijaria foi pensada na sucessão familiar, ou seja, um negócio que vai passar de pai para filho.

“Nossa ideia de empreendedorismo rural, além de ser uma fonte de renda e fomentar a economia local, também é uma maneira de evitar o êxodo rural. É algo que nossos filhos irão administrar, algo para eles colocarem em prática o conhecimentos deles, as ideias deles, os sonhos deles. Nossa meta também é que essa sucessão não demore anos e anos para acontecer, pois queremos que eles sejam empreendedores com a vitalidade da juventude”.

Entre os desafios do empreendedorismo rural, Cirlei cita a necessidade em ter uma diversidade de conhecimento, pois o processo de produção do queijo envolve todo um cuidado com a cadeia leiteira, até o aprendizado em fazer gestão dos negócios. “O ato do empreender gera diversas mudanças, novas condutas e constante busca por aprendizado. O empreendedorismo carrega muitos desafios, porém tem a força da transformação: aqui ele transforma a nossa história familiar, a nossa relação com os queijos, em experiências gustativas para quem prova o sabor. O empreendedorismo é um caminho que requer planejamento, organização, estratégica, apoio e que contribui na realização dos projetos de vida”, enfatiza Cirlei ao reforçar como a Queijaria Átani tem transformado a vida da família e contribuído para que outras famílias também busquem empreender.

Na ‘saborosa’ Rota: os empreendimentos familiares que fomentam a economia

Ao aderir a Rota do Queijo Paranaense, as queijarias ganham mais visibilidade – Foto: Janaí Vieira

O caminho que movimenta o empreendedorismo transformador pode chegar em todos os lugares. Em dezembro de 2021, uma iniciativa do IDR-Paraná IDR Paraná – Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná/Iapar/Emater – reuniu queijarias do Estado com o objetivo de criar um roteiro para que os amantes dos queijos possam conhecer a produção paranaense. Assim surgiu a Rota do Queijo Paranaense.

Em Toledo, três propriedades integram a Rota: Queijaria Átani, Queijaria Flor da Terra e Queijaria Vila Belli. As três já receberam as placas que consolidam os espaços no roteiro do turismo paranaense. Cada um com suas histórias, cada um com suas receitas, cada um com seus sonhos, mas todas com pontos em comum: ofertar o que há de melhor quando o assunto é queijo.

“Toledo contempla três queijarias ganhadoras de medalhas em vários prêmios de queijos. Ao visitar essas queijarias, o turista tem a oportunidade de conhecer as histórias de cada produtor, compreender as técnicas transmitidas de geração em geração e testemunhar o amor, a paixão na produção de cada lote de queijo, além de degustar uma variedade de queijos de excelente qualidade”, destaca a técnica do IDR Paraná, Valmira Antunes Dias.

NOVOS CAMPOS – Valmira explica que ao aderir a Rota do Queijo Paranaense, uma queijaria – mesmo sendo de pequeno porte – ganha visibilidade, atraindo turistas de outros municípios do Paraná e de outros estados. Ela acrescenta que ao ganhar esse destaque começa a atrair visitantes do próprio município onde está localizada, consegue gerar renda com a comercialização dos queijos e com a exploração de outros atrativos turísticos que a propriedade possa oferecer.

A atração de turistas, segundo a técnica do IDR Paraná, traz a possibilidade de movimentar toda a economia local, pois em algum momento esse turista vai demandar por serviços de hospedagem, alimentação, transporte, comércio, entretenimento. Valmira pontua que a Rota do Queijo Paranaense é uma ação dinâmica e a qualquer momento novas queijarias podem fazer parte.

“Para os produtos, permite que eles se conectem diretamente com o consumidor, compartilhando seu conhecimento e paixão na arte queijeira, fortalecendo assim o vínculo com a comunidade local e visitantes, gerando renda e sustentabilidade do empreendimento”, salienta ao reforçar a importância em fomentar o empreendedorismo rural.

FOMENTAR O EMPREENDEDORISMO RURAL

O município também ganha quando é alavancado o empreendedorismo rural. O secretário de Agronegócio, de Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Toledo, Diego Bonaldo, pontua que fomentar esse setor é possível perceber reflexos em outros empreendimentos. “É importante o trabalho da agroindústria familiar para a economia, pois ajuda a fortalecer o turismo rural e isso inspira outros produtores a empreenderem, a terem sua agroindústria regular. Essa vertente amplia a produção e com isso é mais dinheiro no bolso do produtos, mais imposto que o município arrecada, mais reflexos positivos na economia. É um ciclo virtuosos que temos na economia”.

EXCELÊNCIA E QUALIDADE

A Rota do Queijo Paranaense congrega diferentes opções de queijos produzidos por produtores rurais. No traçado inicial, a Rota contempla 31 queijarias em diferentes regiões do Estado, regularizadas por um dos sistemas de inspeção sanitária (SIM, SIP, SIF, SUSAF ou SELO ARTE). Essas chancelas destacam o compromisso com padrões de higiene e segurança alimentar, bem como na excelência na produção. Para estar na Rota é preciso manter a propriedade organizada e com estrutura para receber bem o visitante, mesmo que de forma simples.

Textos por Janaí Vieira

Da Redação

TOLEDO

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