A Pulguinha Desconfiança está solta

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Jonas Eder[1]

Na história recente do nosso país, vimos a condenação do ex Presidente Lula que em uma entrevista afirmou: não tem, nesse país, uma viva alma mais honesta do que eu! A declaração tomou o público em 2016. Depois, em 2018, ele foi preso e, por considerar o julgamento do juiz à época, Sérgio Moro, suspeito, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a pena e Lula ganhou a liberdade. Lembram do Eduardo Cunha que, por iniciativa própria, disse para Comissão Parlamentar de Inquérito relativo à Petrobrás, que não tinha contas no exterior; depois foi preso também? E o José Dirceu que, por ocasião do Mensalão, disse ter se tornado um “símbolo de ressentimento contra aqueles que mudaram o país”. Mas não disse todavia que era culpado.

A pergunta: você se considera culpado? ou: você é culpado? Dificilmente encontrará uma confissão. Ao contrário, afirma-se com mais veemência que: a inocência será provada! Trata-se de uma injustiça contra a minha pessoa! Estou sendo perseguido! Declarações estas obtidas quando o interlocutor é um Político, um Advogado, enfim, alguém letrado. Os crimes que não pertencem ao comumente conhecido Colarinho Branco, possuem outras justificativas: ele me “caguetou”! Ele me roubou primeiro! Ele ameaçou a minha mãe! Todavia, ambos, de colarinho branco ou não, tentam fugir da pena e dificilmente reconhecem a culpa e aceitam a punição; ações est as bem conhecidas no campo do narcisismo psicopático, mas isso já é uma outra questão.

Assumir a culpa quando a “casa caiu” é algo muito difícil, mas confessar o crime, seja ele qual for, é coisa que definitivamente não vemos todos os dias. Imaginemos o sujeito que procura a justiça e confessa: é por minha culpa minha tão grande culpa! Na Igreja, pode até ser, mas na frente do Juiz, raramente os culpados fazem o ato de contrição; para ser honesto, não lembro de ter tomado conhecimento de casos desta natureza.

A população brasileira tomou conhecimento, nestas últimas semanas, do intento de fazer com que o voto nas próximas eleições seja impresso e com escrutínio público. A Proposta de Emenda à Constituição foi rejeitada, primeiro na Comissão de Justiça e depois no plenário da Câmara dos Deputados. Agora, com a recusa dos Deputados em aprovar o voto impresso auditável, paira sobre a nação certa nuvem de credibilidade quanto a urna eletrônica. Todavia, é só uma nuvem, uma fumaça, que se presta mais a ofuscar do que esclarecer. Deveria a população esperar que, os eleitos com a urna eletrônica, aprovassem maior lisura na contagem dos votos? Francamente!

Caso a população, de maneira geral, não suspeitasse da eleição eletrônica, agora pode começar a ter um “dedinho” de desconfiança. Exatamente na medida em que os eleitos pelas urnas eletrônicas dizem que ela é confiável, é a desconfiança. Desgraçadamente, a população irá cumprir com o direito constitucional de escolher os representantes para administrar o país nas próximas eleições, com uma colinha (é sempre bom lembrar) e uma pulga, uma pulga atrás da orelha.

[1] Pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios Corporativos.