Movimentos e o pânico

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A simples ameaça de uma nova greve dos caminhoneiros, como aconteceu na quarta-feira (8), serviu para deixar em pânico boa parte da população. Em Toledo foram formadas longas filas na maioria dos postos de combustíveis, assim como em muitos supermercados, provocadas pelo medo do desabastecimento que, sim, poderia se tornar real se o movimento persistisse e se intensificasse, algo que não deverá acontecer pela sinalização dada no fim da tarde de ontem.

E, mesmo que se intensifique, certamente os reflexos não deverão ser os mesmos que aqueles registrados em maio de 2018, quando o país literalmente parou. Não que isso não possa se repetir, entretanto, a imagem deixada naquela época ainda ecoa na mente de muitas pessoas e uma nova paralisação como aquela poderia significar o caos. Não que o país não esteja se aproximando disso, afinal, os ânimos se acirram cada vez mais pela verborragia política e pelos desmandos de decisões patéticas tomadas em esferas onde deveria prevalecer o bom senso.

Mas, em se tratando de Brasil, um país onde amadores não têm vez, tudo é possível, ainda mais quando envolve decisões como as tomadas também ontem (9) pela Câmara dos Deputados, que aprovaram por maioria o texto-base da proposta de revogação de toda a legislação eleitoral. Entre as propostas estão a censura a pesquisas eleitorais e a fragilização de normas de transparência, fiscalização e punição de políticos e partidos por mau uso das verbas públicas.

Ou seja, anda-se na contramão daquilo que vinha se tentando fazer com a deflagração da Operação Lava-Jato, hoje um arremedo do que foi outrora e que já caiu no esquecimento público diante dos acontecimentos posteriores ao ex-juiz federal Sérgio Moro ter sido seduzido pelo canto da sereia.

Movimentos como estes acirram a disputa por espaço e acentual o pânico da sociedade comum de que o país entrou numa rota desgovernada, sendo o futuro tão incerto quanto o preço das coisas amanhã, fruto de uma inflação que aos poucos está escapando pela fresta dos dedos de um governo mais preocupado em discutir o sexo dos anjos a tentar fazê-los se materializar.