Vida útil do aterro municipal de Toledo pode estar no limite

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O aterro municipal de Toledo apresenta problemas há anos. Atrasos em sua ampliação, destinação incorreta de volumosos e manejo inadequado ao longo dos últimos anos comprometem a sua infraestrutura. Em fevereiro deste ano, o Ministério Público (MPPR) realizou uma Inspeção Técnica com o Instituto Terra e Água (IAT) e representantes do Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA). Naquele momento, um fator preocupante foi que, mesmo com novas licenças de operação, com liberação de uso para 9ª camada (o projeto inicial contemplava apenas sete), a previsão de esgotamento de uso do aterro estava se aproximando. Embora a estimativa seja de uso até o final de 2022, não é certo que isso seja possível, não sem alguns riscos.

Ainda em maio deste ano, o então secretário municipal de Desenvolvimento Ambiental e Saneamento Maicon Stuani fez uma prestação de contas durante assembleia do CMMA. Na ocasião, o secretário informou: “que a vida útil do aterro era de mais seis meses apenas, que não seria feito um ‘Aterro Emergencial’ devido a não autorização do IAT, que a decisão foi pela contratação para executar um novo aterro (em área anexa ao atual)”.

No final de outubro deste ano, os conselheiros realizaram nova visita ao aterro. O relatório da Câmara Técnica de Resíduos foi apreciado pelos conselheiros na última reunião ordinária do órgão realizada na segunda-feira (29). As informações foram apresentadas pela presidente Michelle Maria Detoni Zanette. Além disso, participaram da visita ao aterro o presidente do CMMA Julio Daniel do Vale e o conselheiro Robert Gordon Rickson. Maria Glória Genari Pozzobon foi convidada pelo órgão.

Durante a visita, na área específica para o depósito de rejeitos no aterro, os conselheiros notaram que não foram instalados os drenos para captação do chorume (sistema de drenagem horizontal de percolado). Michelle explica que essa situação além de prejudicar o processo de decomposição da matéria orgânica, o terreno fica mais instável dificultando o trânsito de maquinário e aumentando o risco de desmoronamentos por instabilidade do terreno.

“Também não teve continuidade o trabalho no sistema de saída de gás (sistema vertical de drenagem de gases). A falta de drenagem de chorume e biogás aumenta o risco de novos incêndios, toda a massa de resíduos em decomposição torna-se combustível. Em caso de um sinistro o combate as chamas se torna muito complexo, a quantidade de material acumulado é grande e não se pode prever onde estão localizados bolsões de gás combustível e tóxico”, destaca a presidente da Câmara.

Ainda no finam de outubro, os conselheiros também verificaram que não existiam canaletas laterais para escoamento da água pluvial; metade da última camada estava sem cobertura de solo, gerando odor desagradável. “Este problema foi ocasionado pela falta de equipamento (trator específico) para fazer o serviço, uma vez que a máquina estava quebrada e o conserto havia sido feito a poucos dias”, afirma Michelle.

Sobre os queimadores/flares que existem (das camadas inferiores), eles não estavam em funcionamento (o que aumenta o risco de incêndios e contribui para emissão de metano na atmosfera). Os conselheiros ainda perceberam que em uma área do antigo lixão (porção mais alta do terreno) havia um foco de incêndio subterrâneo.

DIAGNÓSTICO – Durante a última visita técnica dos conselheiros, Michelle disse que na entrada do aterro, a área das balanças e o entorno em geral estão com a manutenção adequada. “As cercas foram arrumadas; a região se encontra limpa, sem a presença de plantas daninhas e resíduos”.

Na entrada, os conselheiros da Câmara observaram que uma das balanças ainda não estava em funcionamento, “mas fomos informados de que o processo de licitação para o conserto já está em tramitação, mas ainda não tinha data para o retorno ao funcionamento. Todos os veículos de terceiros que chegaram trazendo resíduos de podas eram pesados e feito os devidos registros”, menciona a presidente ao complementar que as balanças operam da mesma forma como verificado e registrado na inspeção técnica realizada pelo MPPR em fevereiro deste ano.

Com relação ao triturador de volumosos, o equipamento ainda não foi consertado. A justificativa para esse atraso é a dificuldade em encontrar empresa prestadora de serviço que faça o reparo. “Contudo, a informação é que a documentação necessária para realizar a licitação já foi enviada. O triturador de volumosos está na mesma situação que foi verificada na inspeção técnica realizada pelo MPPR”, pondera a Câmara Técnica.

Já as lagoas de tratamento estão em funcionamento e é feita a recirculação. “Contudo, é importante verificar se não está havendo extravasamento, principalmente em dias de grande precipitação”, afirma Michelle.

Sobre os resíduos de varrição e poda de árvores, a presidente da Câmara Técnica expôs que a biomassa verde da varrição de rua está sendo colocada em um espaço temporário. Ela acredita que “terá que ser aterrado no futuro, pois grande parte encontra-se em sacos plásticos e não está sendo processada para conversão em biocomposto. O local onde o referido material se encontra faz parte da área de ampliação do aterro existente”.

Ao lado do material da varrição estão os volumosos. “Embora a classificação para esse resíduo é de ‘inerte’ a presença de eletrônicos e outros elementos podem representar fonte de contaminação por metais pesados ou outras substâncias tóxicas que não condizem com a forma como esse material está depositado. A informação que nos foi repassada é que só estão lá enquanto o triturador não fica pronto”.

RECICLÁVEL – Os conselheiros ainda conseguiram identificar (facilmente) junto aos resíduos denominados volumosos a presença de materiais recicláveis. De acordo com Michelle, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Ambiental e Saneamento (SMDAS) informou que foi solicitada à Acatol para fazer a triagem do material, porém a Associação teria se negado alegando falta de mão-de-obra e riscos para saúde.

“O processo de separação de materiais reciclados deve ser encarado como um processo industrial que é, com riscos à saúde, segurança, manutenção, etc. Sugerimos fortemente que o espaço seja reorganizado e todos os procedimentos (desde a chegada do material até o armazenamento do material prensado) detalhados e tenham seus POPs – Procedimentos Operacionais Padrão”, menciona a conselheira.

Michelle comenta que “o volume de material para ser processado estava quase no máximo que a área pré-processamento comporta. Houve alguns eventos em meados de outubro que resultaram nessa realidade. Uma das esteiras estava muito ruim, o material não conseguia ser levado e isso tem dificultado a operacionalização do processo de triagem. O custo para o conserto da esteira é alto e para piorar a situação, devido a não atualização da cooperação que tem entre a Acatol com o aporte de do Fundo Municipal do Meio Ambiente, a cooperativa tem tido dificuldades”, esclarece Michelle.

Em setembro deste ano, o secretário da pasta Júnior Henrique Pinto informou à presidência do CMMA que enviaria um novo instrumental para renovar o convênio. Outro problema já debatido no CMMA é a qualidade do reciclável que chega dos containers plásticos (amarelinhos). “A equipe da Secretaria informou que tem os detalhes de quanto disso é lixo. Isso ocorre devido a dois fatores principais: o primeiro é a disposição de resíduos irregulares nesses recipientes e segundo é que os catadores informais passam e retiram os materiais de maior valor”, salienta a presidente da Câmara Técnica.

Além disso, o vidro não está mais sendo triturado no barracão. A Acatol está vendendo o vidro e o receptor é quem está com a máquina que ficava no barracão. “Aparentemente, essa alternativa foi melhor porque a trituradora de vidro demandava uma manutenção que não era viável para a cooperativa”, finaliza Michelle.

Da Redação

TOLEDO