Combate: Bullying podem deixar marcas para toda a vida

0 14

Abril é um mês que marca a luta contra o bullying. Campanhas e ações de acolhimento marcam a data de 7 de abril Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Tal prática repetitiva de atos de violência física e psicológica humilha e gera sofrimento as vítimas.

As crianças e os adolescentes não lidam com os sentimentos da mesma forma que os adultos. A timidez nessas fases da vida pode impedir a formação de novas amizades. Situações de bullying acontecem e elas nem sempre sabem identificar; a participação dos pais no cotidiano dos filhos é fundamental para o desenvolvimento saudável.

Os pais e as pessoas responsáveis pela criança correspondem a primeira fonte de interação social. Os ensinamentos dentro de casa, bem como o ambiente de convívio formam os pontos de referência dos pequenos, por isso, é fundamental que eles tenham segurança para conversar e expressar os sentimentos no ambiente familiar.

“As particularidades de cada um ficam mais evidentes dentro dos grupos, por exemplo, em uma sala de aula temos crianças com características diferentes: algumas são comunicativas, já outras são mais tímidas. Tudo normal, exceto quando as relações entre elas ganham outras conotações, deixam de ser brincadeiras e tomam proporções que venham a gerar situações de bullying”, aponta a psicóloga, Jane Patti.

ATENÇÃO E AÇÃO – Não querer socializar, ou seja, não ir para a escola, para alguma atividade realizada em grupo e a dificuldade em fazer amizades são pontos citados pela profissional que devem ser avaliados pelos pais. Ela comenta que é preciso estabelecer diálogo com a criança e abertura para as conversas.

“Perceber que o filho está vivendo situações de bullying é fundamental para as medidas necessárias sejam adotadas. Entre as ações a serem tomadas, por exemplo, os pais podem incentivar o filho a conversar com quem pratica a ação sobre como se sente, isso de maneira firme. Esse tipo de atitude permite que os pais estimulem que a criança venha a expressar desconforto e incomodo diante de uma atitude do colega e o esclarecimento para que venha a mudar a atitude”, declara.

LIVRO – Uma aluna da rede estadual de ensino do Paraná encontrou motivação para ajudar colegas e demais estudantes que passam pela mesma situação. “Eu sofria calada”, relembra Ariane Emanuele Sztaler, de 14 anos. Então aluna do ensino fundamental no Colégio Estadual Cívico-Militar Anita Garibaldi, em Jardim Alegre, no centro do estado, a jovem passava por maus bocados na escola. Tímida, a estudante de personalidade retraída e discreta era alvo de chacota dos colegas, justamente por esses motivos. “Não me deixavam em paz. Primeiro caçoavam de mim por eu ser tímida. Depois começaram a falar do meu cabelo, do meu corpo, da minha cor. Eu não retrucava, fingia que não estava ligando, mas quando chegava em casa eu desabava”, revela.

O suplício se arrastou por anos, sem que Ariane percebesse o quanto sua saúde mental estava enfraquecida por conta do bullying. “Eu me sentia desanimada em ir à escola. Não tinha motivação para sair de casa e queria interagir cada vez menos”, conta.

Espectadora do sofrimento da filha, Eliane Sztaler, de 49 anos e também professora (da rede municipal), sugeriu então – no início de 2022 – que a jovem começasse a escrever sobre o que sentia. “Era difícil saber o que ela passava. Eu ficava de mãos atadas mas tentava aconselhá-la. Uma solução que imaginei foi que ela passasse tudo para o papel, como forma de aliviar um pouco a tristeza”, conta.

O conselho virou projeto. “Enquanto eu escrevia sobre mim, comecei a lembrar de outros colegas vítimas de bullying e imaginei quantos mais não estariam sofrendo calados, como eu”, lembra Ariane. Com a ajuda de Eliane, a estudante reuniu alguns alunos que estavam dispostos a colaborar com seus depoimentos. Com a autorização das diretorias de algumas escolas do município, Ariane distribuiu questionários para cerca de 300 alunos, com idades entre 12 e 16 anos e, por meio da pesquisa, coletou dados que serviram como base para que o perfil das vítimas de bullying, bem como as principais formas de ataque dos agressores, fossem traçados. “Por meio do levantamento, observamos que as vítimas são predominantemente alunos pardos ou obesos, por exemplo”, afirma.

NA REALIDADE – No que diz respeito à idade, a pesquisa apontou que a principal faixa etária alvo do bullying é de 9 a 11 anos e que quase 60% dos estudantes matriculados tinham sofrido algum tipo de agressão. “O problema é muito mais grave do que aparenta e, hoje, ultrapassa as paredes da escola e invade a vida pessoal, por meio da Internet e das redes sociais”, afirma Lourival de Araújo Filho, coordenador de Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Ainda segundo o especialista, a questão é um problema que não se resolve sozinho. “É preciso recorrer a um adulto, profissional, professor ou colega. O problema é que a muitos falta coragem. Por isso, materiais que conscientizem sobre o bullying numa linguagem próxima dos jovens, seja online, em plataformas de vídeo, redes sociais, sites e livros – como o de Ariane – desempenham papel importante no combate a essa violência”, ressalta.

Depois de 6 meses de intenso trabalho, o resultado final veio em novembro do ano passado. Reunindo em 102 páginas dados, legislação e testemunhas (contados por meio de histórias em quadrinhos) o livro intitulado “Bullying: caia fora dessa” foi publicado.

Com dezenas de exemplares vendidos, o material já cumpre o objetivo pelo qual foi concebido. “Depois que o material começou a circular, parece que as pessoas se sentiram validadas e entenderam que suas vozes devem ser ouvidas. Tenho colegas que me procuram para conversar e falar sobre o que passam. Juntos, estamos entendendo que o bullying fala muito mais sobre quem pratica do que sobre a vítima e que nós não devemos ficar calados”, finaliza.

Da Redação*

TOLEDO

*Com informações da AE Notícias

Deixe um comentário