Os novos e antigos desafios do Brasil na produção de trigo

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Dilceu Sperafico*

O Brasil assumiu o desafio de se tornar autossuficiente na produção de trigo, cujo déficit anual atinge cerca de dois bilhões de dólares, com a colheita nacional atendendo somente 64% do mercado interno. Até porque a cotação do cereal vem subindo muito no mercado internacional, passando de 200 para 450 dólares a tonelada nos últimos dois anos, podendo se elevar cada vez mais com a guerra entre Rússia e Ucrânia.  

Para tentar reverter esse quadro negativo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aprovou projeto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de pesquisa e incremento da produção do “trigo tropical” no Cerrado Brasileiro.

Em apenas 36 meses, a meta é expandir a área de cultivo em 100 mil hectares nos Estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Distrito Federal. Esse acréscimo representaria a redução de 450 milhões de reais no déficit da balança comercial com as importações de trigo.

A produção nacional de trigo em 2022, conforme previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), poderá atingir 8,1 milhões de toneladas, 6,0% superior a do ano passado, em função de aumentos na área cultivada e produtividade do cereal.

Esse volume seria suficiente para atender 64% do consumo nacional estimado em 12,6 milhões de toneladas anuais. Em relação a 2020, o volume de 2022 seria 27% superior, elevando a colheita de 5,1 milhões de toneladas para 6,2 milhões de toneladas.

Como destaca a tradição, a Região Sul contribui muito para essa expansão da produção nacional de trigo. O Paraná e o Rio Grande do Sul respondem por 87% do cereal produzido no País, com a área plantada recorde nos últimos 42 anos. A Emater estima o cultivo de 1,41 milhão de hectares da região em 2022, contra 1,18 milhão no inverno anterior.

Como culturas de inverno ocupam apenas 1/4 da área plantada no verão, de 8,5 milhões de hectares nos três Estados, há espaço para duplicar, triplicar e até quadruplicar a área de trigo na região.

A produção mundial de trigo na temporada 2022/23 projetada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), será de 774,8 milhões de toneladas, 1,0% menor do que em 2021/22, devido à redução do plantio na Ucrânia, Austrália e Marrocos, apesar de maiores cultivos no Canadá, Rússia e Estados Unidos.

A China, maior produtor mundial, colhe anualmente 135 milhões de toneladas de trigo, contra 106 milhões da Índia, 81 milhões da Rússia e 21,5 milhões de toneladas da Ucrânia, que terá redução de 35% na próxima safra. Antes da guerra, Rússia e Ucrânia respondiam por 30% das exportações globais de trigo.

No Brasil, o cultivo do trigo iniciou de forma artesanal, mas após a 2ª Guerra Mundial, o governo estimulou a cultura importando tratores e criando políticas de incentivos, com preços de garantia, crédito agrícola a juros menores, seguro e infraestrutura de suporte, aumentando a área plantada e tornando o País praticamente autossuficiente no cereal.

Em 1974, com a criação da Embrapa Trigo, foram desenvolvidas cultivares adaptadas ao clima da região, com maior êxito nas lavouras. O plantio iniciou com a variedade Frontana e cresceu com cultivares como C-3, entre outras, todas muito produtivas. A trilhadeiras cederam espaço para máquinas tracionadas por tratores e depois por automotrizes, como eram chamadas colheitadeiras movidas por motor próprio.

*O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

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